A improvisação, que é imagem marcante dos primórdios do futebol, tem por origem a tradicional penúria do povo. Entusiasmado com esse novo jogo que os abastados aristocratas começavam a praticar, logo tratou de os copiar. A singeleza do jogo e a simplicidade dos meios para o fazer, eram mínimas, e por isso a sua apropriação. O óbice maior era o campo de jogos, mas nada que não se resolvesse. Afinal a necessidade sempre aguçou o engenho. Coimbra também tem a sua história, na busca de um sítio para jogar tão entusiasmante jogo.
A pressão feita, trouxe-lhe então a possibilidade de adequar o espaço cedido pela autarquia, para ali implantar um recinto desportivo, que é “inaugurado” em 1918. Muitas carências, ausência de meios básicos, como vedação ou balneários, mas já era um local para jogar os improvisados e casuais jogos, já que então ainda não havia Associação de Futebol, embora existissem campeonatos, organizados por um conceituado desportista, Aurelino Lima de seu nome, e que tinha também por participantes os Treze Unidos, Onze Brancos, Conimbricenses e União, o Vitória, o Nacional e o Moderno.
Mas a Académica não descura o seu sonho de ter um verdadeiro recinto desportivo.
Surge entretanto um “Grupo de Amigos do Parque de Santa Cruz”, que se propõe intervir na beneficiação do parque, e a câmara sente-se compelida a actuar. Expropria terrenos contíguos para alargar a área do parque, melhora a iluminação, planta árvores, cria condições para instalar a autoridade, a GNR, e concede autorização para a implantação do campo de futebol que a Associação suspirava. Esta recebe uma choruda comparticipação governamental, e assim procede à inauguração do seu campo de Santa Cruz, que em 5 de Março de 1922 vê o Reitor apadrinhar a festa, dando o pontapé de saída!
Mas estas coisas do progresso, sempre trazem alguns amargos para os desportistas. Foi assim que a câmara, trazendo de olho os terrenos da Ínsua, logo em Dezembro de 1923 envia para o Conselho do Turismo em Lisboa, o projecto de embelezamento do local. Este é aprovado, e destino está traçado para aquele que foi o primeiro campo a “sério” da cidade. A AF ainda solicita da câmara a cedência por mais 2 meses, e esta manda a pretensão para análise da Comissão do Parque, que é inflexível. Diz não, e manda iniciarem-se as obras, que começam exactamente pelo campo. Desmontagem da vedação de madeira. Estávamos em Março de 1924, e Coimbra ficava só com um campo.
É então que surge então uma campanha dirigida pelo jornal Voz Desportiva, visando criar o “Stadium”, mas este nunca surgirá.
O União cria uma Comissão de aquisição de terrenos em 1926, mas a coisa descamba em especulação imobiliária, e o campo torna-se uma miragem.
Mas as solicitações que as intensas competições criam, aliadas às rivalidades que então se vão criando, fazem com que os outros clubes de então na cidade, União e Conimbricense, também sonhem com o seu campo. E 1928 trás esses campos. O Sport arrenda uma propriedade do conde de Fijó ao Arnado, e durante alguns anos tem ali a sua sala de visitas. Inaugura-a em 28 de Outubro, jogando com a Académica, que vence o jogo por 5 a 1.
Mas o clube nunca teve vida fácil com o campo. Em 1938 um substancial e injustificado aumento, leva-o a ceder na sua utilização. Seria a FPF a assegurar a manutenção, procedendo ela ao arrendamento, e incumbindo a AF da sua gestão. Mas os insaciáveis apetites dos senhorios levaram à sua entrega em 1942. Acabava ali o campo, que só muitos anos depois serviu a uma urbanização.
Anunciava-se assim o nascimento do Arregaça, que em 14 de Agosto de 1928 seria baptizado com um União-Espinho. Ainda hoje lá está, confortado agora no seu sintético, que serve à formação.
Entretanto, as exigências do futebol também vão aumentando, e a Académica, que em 47 está na 1ª divisão, tem de apresentar um campo com determinadas condições, que o Santa Cruz não tem. Vai jogar no Loreto, enquanto se ultimam os trabalhos da 1ª fase do municipal. Passará a jogar aqui em 1949, até hoje.
Uma excelente imagem destes tempos, é-nos dada pela descrição que o jornal “Diário de Coimbra”, em Outubro de 1946 nos faz , quando se iniciavam as obras do municipal.
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