Futebol Saudade

Desde que, há mais de 100 anos, se fez o primeiro campeonato de futebol em Portugal, que a "passerelle", que é a vida desportiva, viu desfilar milhares de clubes.
Uns ainda hoje existem, pujantes e vigorosos até, outros, embora perdendo protagonismo, ainda resistem. Mas muitos ficaram pelo caminho.
Passaram ao futsal, deixaram o desporto, ou fecharam mesmo as portas. É dos que partiram (e não só), que aqui vamos tentar deixar a memória.




quinta-feira, 3 de março de 2022

Benfica de Castelo Branco – os hiatos do percurso.




Os anos 20 foram de grande agitação futebolística um pouco por todo o lado. Castelo Branco não podia fugir ao frenesim. Aqui os pioneiros terão sido o Grémio Desportivo União (1) e o Académico Albicastrense, que jogavam no Montalvão, que desde logo foi o berço do futebol na cidade, e que mais tarde passou para Vale Romeiro.
Mas de fonte certa soubemos que foram os bombeiros, de fundação recente (1932), quem conseguiu construir um campo de futebol, que foi o antecessor do mítico Vale do Romeiro dos nossos dias, e que serviu desde logo ao grupo desportivo daquela coletividade.
É neste entretanto que surge na Cidade o Onze Vermelho Albicastrense, que um grupo de rapazes entusiastas cria no ano de 1934 (24 Março).
Quando em 1936 surge a AF, mais uma vez por mérito dos Bombeiros, que são quem dinamiza a pretensão ao propor aos clubes existentes uma reunião, e entre os que se apresentam surgem Os Onze Vermelhos, que serão os antecessores do Sport Lisboa e Castelo Branco, designação assumida “a conselho” do Estado Novo.

Entretanto os anos 40 são de grande agitação na fórmula competitiva, e 1946/47 marca o último distrital que faz escolhas para os nacionais (1ª e 2ª divisões).
A fragilidade de algumas equipas de Castelo Branco, origina uma alteração substantiva. O CF Os Albicastrenses joga pela última vez em 1944/45. O Sporting local só lhe sucedeu mais um ano. Em Setembro de 1946, (pág. 3 do dia 28) comentava o jornal Beira Baixa a pretendida fusão do Sporting com Os Albicastrenses. Tal não aconteceu, como hoje sabemos, mas ficou a pretensão de criar uma equipa forte e representativa, e é assim que em Março de 1948 surge a Associação Desportiva de Castelo Branco, que logo organiza festivais desportivos com o atletismo como tema. Mas o acontecimento principal, englobar neste projecto de Castelo Branco o Benfica local, concretiza-se. E uma assembleia-geral agitada, define os estatutos, onde consta que as cores do clube serão o vermelho nas camisolas, e o preto nos calções. O emblema será o brasão da cidade (“A Reconquista” 2 de Maio de 1948).


E é assim que este campeonato nacional de 1948 (II divisão), conta com a AD de Castelo Branco. Haveria de se manter por apenas 4 anos, já que o fraco desempenho leva a muitas críticas, e a frágil homogeneidade do novo clube quebra-se, e a AD acaba.
Ressurgirá novamente o Benfica de Castelo Branco, pela mão de alguns entusiastas (“Beira Baixa” 22 Novembro de 1952). 


Ressuscitado assim o futebol em Castelo Branco, pela mão do seu mais representativo clube, o Benfica, ainda iriamos assistir a um peculiar acontecimento, que tem a ver com os contornos de uma nova colectividade na cidade. O Desportivo de Castelo Branco fica para a história.

Outro caso peculiar em Castelo Branco

A título de curiosidade, fique a saber que o outro clube mais representativo da cidade de Castelo Branco, o Desportivo de Castelo Branco tem uma história, que nos seus inícios, esteve intimamente ligada ao Benfica e Castelo Branco.
Foi assim que nos disse um entusiasta destas coisas do futebol no distrito, Rui Lopes, e que também fomos indagar.
 “ Os factos estão narrados numa antiga página de internet do Desportivo: “Na época de 1967/1968 e segundo os Estatutos da Federação Portuguesa de Futebol, só podiam subir à Terceira Divisão Nacional os clubes que conquistassem o respectivo Campeonato Distrital da Associação de Futebol da qual faziam parte, desde que nesse mesmo Campeonato Distrital estivessem pelo menos 4 equipas inscritas. Nesta altura o Sport Benfica e Castelo Branco queria subir à III Divisão Nacional mas só estavam 3 clubes inscritos para participar no Campeonato Distrital desse ano, o que desde logo inviabilizava a subida do campeão. Foi assim que a uns meses do início da prova Distrital que um grupo de sócios do Sport Benfica e Castelo Branco resolveram criar um novo clube para assim formar a 4ª equipa necessária para que o Sport Benfica e Castelo Branco pudesse ingressar na III Divisão Nacional. Foi assim que a 10 de Outubro de 1967 nasceu o Desportivo de Castelo Branco, tendo este novo clube conquistado logo nesse ano o Campeonato Distrital de Futebol da Associação de Futebol de Castelo Branco e consequentemente a subida à III Divisão Nacional”.
É uma história deliciosa, sobretudo pela ironia que lhe está subjacente. O clube entra na competição para viabilizar a subida de outro e depois é esse mesmo clube que sobe. Mas posso adiantar-lhe que em tempos consultei alguns jornais de 1967/68 e que este campeonato foi tudo menos pacífico. O Benfica chegou a impugná-lo e as relações entre as duas colectividades azedaram… “

O campeonato decorreu entre 21 de Abril e 26 Maio, tendo o Benfica vencido a prova. Contudo o protesto do Desportivo foi sufragado pela FPF, e deste modo o Benfica foi derrotado nos jogos em que jogou com o guarda-redes Óscar. Este não tinha a 4ª classe!



 







































(1) – ver foto de 1925 no Beira Desportiva (pág. 4 de 1 Abril 1950)

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