Futebol
em Aveiro.
Distrito
enorme, abrangendo diversas comunidades muito diferentes entre si, propicia
variadas e interessantes histórias.
Quando aprofundava a realidade dos campeonatos
distritais, deparamo-nos com o aparecimento de uma assentada, de 3 novas
equipas nestas competições. Procuramos então saber das suas origens e realidades,
tanto mais que foi fugaz a sua presença.
Eram
elas de diferentes zonas do distrito. Uma de Ílhavo, o Clube Atlético da
Marinha Velha, que só por essa vez, em 49/50, jogou a 2ª divisão, na série
Norte.
Outra,
de Anadia, Vilarinho do Bairro, que também só por esta vez jogou futebol nestes
palcos, mas era colectividade de muitos anos, como adiante relatarei.
Por
último, uma de mais difícil referenciação. O Clube Desportivo da Branca, que
ficava na freguesia de Albergaria-A-Velha, que lhe deu o nome.
Posteriormente,
os factos vividos no século XXI, vieram-me sensibilizar para a capacidade
destas gentes da Branca, que dão ao associativismo diferentes cambiantes, mas
sempre na perspectiva das suas competências. Um caso singular, ou o espírito
indómito do português?
Todas
elas só por uma vez jogaram futebol oficial nestas instâncias, mas as suas
localidades sempre foram precoces e entusiastas, e ainda hoje mantem, de alguma
forma, a sua militância desportiva.
A
mais peculiar era o Atlético da Marinha Velha, que ao que parece, resultava da
vontade de um abonado homem de negócios, que fez a equipa ao seu gosto e jeito.
Mas a melhor forma de identificação, é reproduzir aqui o que escreveu um
conhecedor da realidade deste clube da Gafanha da Nazaré, perto do porto de pesca,
tanto mais que às época existiam 2 jornais locais, que contudo ignoraram
olimpicamente estas manifestações na urbe. Valeu-nos o blogue do Grupo
Desportivo da Gafanha, que aqui reproduzimos, com a devida vénia.
História
CONTRIBUTOS
PARA A HISTÓRIA DO FUTEBOL
“Em
finais da década de 40 e início da década de 50, existiram três clubes de
futebol não federado, na Gafanha da Nazaré e um na Gafanha da Encarnação. Mais
tarde, já em meados da década de 50, surgiu na Cale da Vila implementado por um
grupo de estudantes, o “INDEPENDIENTE”, que pretendia ser uma réplica da
Académica de Coimbra. Também era de estudantes e também equipava todo de negro.
Não sei qual dos três clubes seria o mais antigo, já que eu era ainda muito
criança, mas sei que havia na altura uma grande rivalidade entre eles e também
com o “Estrela da Gafanha da Encarnação”. Outros tempos… os mesmos sentimentos,
as mesmas paixões pelo futebol!... Eram instituições que viviam quase
exclusivamente da carolice dos seus mentores, autênticos patrões que dispunham
a seu bel-prazer e à sua custa, dos favores e desfavores dos resultados
desportivos obtidos. Vamos começar pelo União, já que foi esta instituição que
sobreviveu durante mais tempo, e que acabou por estar na origem do actual Grupo
Desportivo da Gafanha, em Agosto de 1957: 1. UNIÃO DESPORTIVA GAFANHENSE Sede
Social – BEBEDOURO, próximo da Igreja Matriz (casa do Aurélio da Neta) Campo de
Jogos – FORTE DA BARRA Equipamento habitual – AZUL E BRANCO Último Presidente –
HENRIQUE CORREIA (Motorista dos Estaleiros Mónica) Inicialmente o União
utilizava um pelado existente no meio do juncal, na Ilha da Mó do Meio, espaço
que chegou também a ser utilizado para provas de hipismo. Mais tarde, já no
Campo do Forte da Barra, era necessário levantar os carris que atravessavam o
pelado, sempre que o recinto era preciso para a realização dos jogos. O União
talvez tenha sido o único dos três clubes, que funcionava verdadeiramente como
associação: - Tinha uma direcção e tinha sócios, enquanto que os outros dois,
tinham um patrão, uma sede em casa desse patrão e eram financiados pelo mesmo
patrão. 2. ASSOCIAÇÃO DESPORTIVA GAFANHENSE Sede Social – CALE DA VILA
(barbearia do senhor Ernesto Tavares) Campo de Jogos – POUSIO DO MILIONÁRIO
CARLOS (Sítio das Lebres) Equipamento habitual – VERDE E BRANCO
Presidente/Patrão – ERNESTO TAVARES A Associação era bastante apoiada pelo
público da Cale da Vila, porque também se tratava do lugar da freguesia com
maior densidade populacional. Era frequente a assistência em apoio à sua
equipa, cantar: “A Associação trabalha Como eu quero Agora é que não falha Os
nove a zero” Estas quadras eram cantadas até à exaustão durante os jogos e
repetidas no regresso, pelo “meio das terras”, quando o resultado era favorável
aos da Cale da Vila. 3. ATLÉTICO CLUBE DA MARINHA VELHA
Sede social – MARINHA VELHA (casa do senhor Casqueirita) Campo de Jogos –
PRAIAS DE JUNTO (próximo do moinho do Conde na Marinha Velha) Equipamento
habitual – ENCARNADO E BRANCO Presidente/Patrão – MANUEL CASQUEIRA
(Casqueirita) O senhor Casqueirita que também se dedicava ao amanho das terras,
era um homem com jeito e apetência para a confecção de trajes para os “anjos”
das procissões, bem como para as tarefas de cangalheiro, na organização de
funerais e de seus aprestos. No entanto, nutria um amor muito especial pelo seu
Atlético, onde gastou uma grande parte dos proventos que angariava nessas
actividades. Nesse tempo, ele já pagava a jogadores, para virem nas “horas
vagas” do Beira Mar, dar uma ajudinha para derrotar os principais rivais. Como
o campo de futebol se situava muito junto à Ria, muitas vezes o horário dos
jogos tinha de ser compatibilizado com o horário das marés na baixa-mar.
Durante a praia-mar, principalmente nas marés vivas, era frequente o campo
ficar debaixo de água, impossibilitando, deste modo, a realização dos jogos.
Generalidades Nesses tempos, apesar das dificuldades de transporte e embora eu
fosse bastante jovem, já nutria um carinho muito especial pelo UNIÃO. Com o meu
amigo José “Perrana” (falecido muito jovem), nós deslocávamo-nos de bicicleta
aos lugares onde o União ia jogar com outras equipas da sua igualha. Nós íamos
a Vilar, à Costa do Valado, ou à Oliveirinha nos arredores de Aveiro. Mas
também nos deslocávamos a Fermentelos, no concelho de Águeda, ou à Amoreira da
Gândara, no concelho de Anadia, apenas pelo prazer de ver jogar o Hortênsio, o
Fernando Vaz (Alentejano) e seus pares. Armando Cravo NOTA: Agradeço ao meu
amigo Armando Cravo a disponibilidade com que acedeu ao convite para colaborar
neste meu blogue, com o único objectivo de nos ajudar a reviver tempos idos. É
com estes contributos que é possível deixar aos vindouros as marcas indeléveis
do nosso passado, de que tanto nos orgulhamos. Assim outros se juntem a nós…”
FM
Fonte:
Galafanha
Esclarecido
quem era este Atlético que quis experimentar estes palcos, e que era personagem
de grandes pelejas, conforme nos contam acima, debrucemo-nos sobre os de
Vilarinho.
As
referências que encontramos apontam para 1929, com presença na Promoção
distrital. Nada encontramos que o confirme, mas nos inícios dos anos 30, é
certo que andavam à procura de instalar um campo. O objectivo era que pudesse
ser vedado, e assim obter receita, condição indispensável para a aceitação
associativa.
A
certeza certa destas démarches pode ler-se no jornal de Anadia “Acção Nacional”,
que em 21 de Julho de 1934, nos dá conta que o clube pediu à Câmara o
apuramento do terreno no “baldio do Poço”, para ali estabelecer devidamente
vedado, o seu terreno de jogo.
O
jornal é contra, e diz que campos vedados só fora das povoações, e em baldios
distantes.
Dentro,
é um atentado à estética, e atenta contra a comodidade dos habitantes!
Diz
ainda o jornalista que até agora se tem jogado no “largo da Feira”, mas que
como não pode ser vedado, o interesse naquele logradouro não existe. Mas a polémica mantem-se por largo tempo,
sempre com oposição ao campo de futebol, e as sucessivas edições do jornal dão
grande enfase à questão. De repente o jornal cala-se, e o silêncio dura anos.
Quando se quebra, o jornal fala do futebol do Vilarinho, jogado no campo deste.
Só não diz onde fica o campo. Mas deduzo que de uma forma ou outra, o SL
Vilarinho lá tenha construído o campo nas imediações do “Poço”, porque é na
vizinhança deste que encontramos a Adega Cooperativa, que se instalou nos
terrenos do outrora campo de futebol.
Mas
não fica por aqui a história do futebol em Vilarinho, urbe sempre muito activa,
que chegou a contar com 2 clubes, e 3 campos.
O
futebol federado contou somente com uma equipa, se deduzirmos esta fugaz
aparição do SL Vilarinho.
Foi
a ARC de Vilarinho do Bairro que o jogou de 1978/79 a 1987/88. Fez uma
reaparição em 1995, mas foi sol de pouca dura.
Entretanto
a vontade de o jogar era intensa, e outros palcos se buscaram. Poutena, um
lugar de Vilarinho do Bairro, também tinha entusiasmo e paixão pelo futebol,
jogando-o sob a capa da Casa do Povo. Era o Sporting local, clube popular com
origens em 1943, quem o jogava. E com tanto empenho e qualidade, que os
primeiros campeonatos distritais da FNAT, em 65/66 e 66/67 foram ganhos por
eles!
Mais
tarde, conquistada a carta de alforria, aparecem em pleno, como Sporting da
Poutena, e jogam os distritais de 70/71 até 95/96.
Fica
assim referenciada a saga desportiva de Vilarinho do Bairro, que dispôs de 3
campos de futebol. Hoje, só lá está um junto do pavilhão da ACR VB. Outro
ficava onde hoje está a escola primária. Também o da Poutena ainda espera por
gente.
Debrucemo-nos
agora sobre a Branca.
Também
só aparece uma vez, mas o lugar era, e é, dado ao futebol. Fazendo fé nos
jornais locais, foi efémera a existência do clube da Branca, mas não deixou de
imprimir a sua marca no futebol do distrito. Mas vejamos como tudo começou. O
Jornal de Albergaria (JA) de 30 Setembro de 1948 dá conta de um jogo de futebol
do nóvel clube da Branca, e congratula-se com o seu desempenho, tendo por
oponente a forte e competente equipa de Angeja.
O
jogo teve lugar no campo da Branca, o Choupelo, que começou a ser idealizado em
Julho de 48, conforme noticia o “Jornal de Albergaria” no dia 10, e
referindo-se ao seu grande entusiasta e dinamizador, o médico Carlos Almeida.
Contudo
o jornal identifica este novo clube como o Fulminante Futebol Clube da Branca.
Mas
outro jornal de Albergaria, o Beira Vouga, diz desde sempre que o clube é o
Clube Desportivo da Branca. Seria o Fulminante o grupo original na Branca, dos
tempos de baliza às costas.
Temos
assim já referenciado o campo, e o nome do clube. O campo é implantado nos
terrenos dispensados pelo proprietário local, Artur da Silva Ribeiro, pois
assim o diz o Beira Vouga de 4 Dezembro de 1948, pág. 5. Em 2 de Julho (ver JÁ
desta data) o campo está em processo de conclusão, procedendo-se à sua vedação,
condição essencial para integrar provas oficiais.
Em
Janeiro seguinte (20, no JA) fala-se da participação do clube na 2ª divisão
distrital de 1949/50, que começará em Março.
Falta
citar que foi o entusiasmo do dr. Carlos de Almeida, que coadjuvado por outros
entusiastas, criou este clube, de que foi presidente, e também treinador (ver o
JA de 10 MAR 1950).
Não
foi feliz a participação do clube da Branca, e talvez por isso o clube tenha
desaparecido, pese na época seguinte ainda andar pela Promoção, mas não se
volta a ouvir falar deles.
Hoje,
na Branca existe um excelente campo sintético, rodeado de infraestruturas
diversas, desportivas e culturais, que fazem da localidade uma referência.
Em
2010 aparece uma “nova” colectividade, exactamente com a mesma designação da
anterior. Clube Desportivo da Branca.
(ver
também o Jornal de Albergaria de 20 Junho 1948 e 30 Setembro desse mesmo ano)
início em 5 FEV e conclusão a
16 ABR
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|||||||
J
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V
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E
|
D
|
M
|
S
|
P
|
|
CUCUJÃES
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8
|
5
|
1
|
2
|
24
|
9
|
19
|
ESCOLA LIVRE
|
8
|
4
|
1
|
3
|
25
|
18
|
17
|
ARRIFANENSE
|
8
|
4
|
1
|
3
|
28
|
10
|
17
|
FEIRENSE
|
8
|
4
|
0
|
4
|
20
|
21
|
16
|
BRANCA
|
8
|
1
|
1
|
6
|
9
|
48
|
11
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