Melgaço e o futebol.
Decidi-me a pesquisar o futebol por
estas bandas, exactamente por Melgaço ser o concelho mais ao norte do País. E
também por só 3 das suas equipas – e duas delas não passando as 2 presenças – terem
estado no futebol oficial (1), em quase 100 anos de competição.
Mas descobri coisas peculiares. Vou
aqui partilhar esse saber, se para tanto me chegar a verve.
A segunda década do século passado, já
nos vai dando notícias do futebol por aqui. Não que houvesse alguma equipa
filiada, que isso só iria acontecer em 1973, quando o Melgacense se filiou,
teve um campo novo, e passou a jogar os distritais. Fez até o seu primeiro jogo
em Valença, e perdeu por 4 a
2. Jogava-se uma Taça de Preparação.
Mas isto é o arranque do futebol
oficial. E nos anos que antecederam esta data? Não houve futebol?
Houve, variado e emotivo. Jogava-se
então no campo do Monte Prado, local de baldios requestados (a Igreja e a
Autoridade Administrativa discutem a sua gestão). Mas o campo ficava longe, e
os jornais locais, reflectindo a opinião generalizada, empenham-se na
construção de um novo. Incentivam a Câmara a tomar a iniciativa, e fazem-se
planos. Muitos planos. Levantamentos topográficos até, como se relata na Voz ou
no Notícias. De Melgaço. Mas o campo nunca se faria. Neste entretanto surgem
novos clubes e criam-se algumas rivalidades. Terão sido sadias, pois os jornais
não dão conta de atritos.
Como atrás disse, o primeiro clube a
surgir é o Sport Melgacense. 1925 é a data da sua criação. Sem dúvidas, como
atesta o Notícias local. Inactivo logo depois de ser criado, eis que ressurge
no início dos anos 30. Logo após, teria a companhia do Atlético Melgacense, da
União Artística e do Grupo Desportivo Os Leões.
Mas os tempos eram difíceis, as
estradas muito más, e as solicitações para manter os clubes (a sede era nestas
alturas local indispensável para juntar os sócios e fazer receita com bailes
e bares) depressa levavam à sua inactividade. Foi o que aconteceu logo nos finais da
década.
Haveria de voltar o futebol em meados
de 40, e logo com 4 equipas:
Sporting de Melgaço, Vitoriosos,
Comercial, Rápido, e Os Unidos. Foram tempos de muita actividade, e intenso
movimento no Monte de Prado, mas voltou a inactividade no princípio dos anos
50.
Foi o cimento para o novo e definitivo
ressurgimento do Sport Clube Melgacense, que ainda hoje passeia as suas cores
pelos campos nacionais.
Mas nos quase 100 anos que o futebol leva
por aqui, apenas 3 equipas do concelho estiveram no futebol oficial. E duas
delas fizeram-no de forma efémera. Mas vamos começar pelo princípio.
Foi o precioso auxílio de 2 jornais da
terra, O Notícias e a Voz de Melgaço, que nos guiaram nesta viagem pela
história. Tudo começa em 1921, quando se começa a publicar o Notícias de
Melgaço.
A edição de 8 de Março de 1925 (pg 2),
abre aquilo que parece ser o princípio do futebol por estas bandas. E já era um
Sport Clube Melgacense o protagonista. Diz o jornal:
“vão começar as obras do campo
destinado ao futebol, no lugar do Arronchal, onde antigamente se faziam as
feiras de gado.” Nascia o futebol em Melgaço. Pelo menos é isso que o jornal diz,
acrescentando ainda que “todo o material necessário, quer para as obras, quer
para o jogo, já foi comprado”.
Embora não se diga onde, logo a 12 de
Abril se anuncia que o Melgacense venceu por 5 a 0 o S. Gregório FC. E logo
a 16 de Abril se volta a jogar com os mesmos de S. Gregório. Desta vez o
resultado foi de 2 a
1.
Mas já então era no Monte de Prado que
se jogava. Di-lo o jornal em 20 de Abril, quando anuncia para esse campo um jogo
com os vizinhos espanhóis do Fortuna Arboense. A edição de 3 de Maio desse ano,
é um profuso retrato do jogo, dos jogadores, dirigentes, e das diligências para
aprontar o recinto. Não ficam dúvidas de onde o futebol se fez, e quem o fez.
Iniciava-se assim uma intensa e
apimentada competição com os vizinhos. Isso mesmo ressalta da carta que o SC
Valenciano faz publicar no citado jornal. Invocando algumas incidências em jogo
anterior, desfia os de Melgaço para um jogo em campo neutro e regulamentar. Em Monção. Mas desafia
ainda o Melgacense a filiar-se na Associação de Futebol, e não recorrer a
jogadores espanhóis, que foi o que fez, acusam aqueles, no último jogo. Fervia
o futebol por aqui!
(ver edição de 26 Julho 1925)
Mas o jornal fecha portas em 1926, e só
voltaria em 1929. Até 1933 não daria quaisquer novas sobre futebol, pelo que se
deduz que este tenha hibernado entretanto.
Mas haveria de regressar em 1934.
Escreve o NM em 6 de Maio que os rapazes do futebol têm em curso uma recolha de
dádivas para reparar o campo no Monte de Prado, e também para equipamento
desportivo. E o jornalista remata dizendo-se também do Sporting Clube Melgacense.
Mas é erro. Seria o Sport Clube Melgacense que voltava à vida. Sem dúvida que
tem mais de sete, como os gatos.
Em Junho já se joga, em Espanha, onde o
Sport empata. São frequentes os jogos, que o jornal relata, e em Julho no Monte
de Prado o jogo com os espanhóis meteu invasão e tudo! Eram quentinhos os jogos
por esta altura.
Segue então o futebol em Melgaço, tendo
sempre como embaixador principal, e desde os anos vinte, o Sport Clube
Melgacense. Na história consta 1925 como ano de nascimento. Nunca seria filiado
até aos anos setenta, e seria também então que se tornaria oficial, ao legalizar-se,
mas a sua vivência é um facto, mesmo com alguns períodos de inactividade. Hoje,
está perto dos 100 anos!
Mas neste percurso de futebóis, vão
aparecendo algumas equipas, dedicadas também ao jogo, mas todas não filiadas, e
portanto sem actividade regular. Mas foram períodos de diversidade, e alguns
até com várias equipas em
simultâneo. Os anos finais de 40 foram disso exemplo.
Mas fica aqui ainda uma citação aos
palcos de jogo. Desde sempre se jogou no Monte Prado. Hoje tem até um excelente
Centro de Estágios, na vizinhança de um Hotel que lhe serve de apoio. Foi um
regresso às origens, para quem fez um desvio de 1973 a 2001, que foi o
período de utilização do campo municipal Dr. Sidónio Soares de Sousa, que hoje
é zona residencial.
(1)
- Foram elas o Grupo Desportivo do Penso, que jogou a 2ª divisão em 1976/77, e
que teve na falta de campo uma das razões do seu abandono. Também a União
Desportiva de Paderne, velhinha dos anos 50, também tentou o futebol a sério.
1977 e 1978 viu as suas cores agitarem-se nestes palcos do distrito, mas o seu
campo, que chegou a começar a construir-se na antiga feira do gado não chegou
ao fim, e assim também o futebol a sério morreu. No seu lugar construiu-se um
excelente Lar de Repouso.
Fica aqui então, uma abordagem desta
realidade futebolística, não sem antes citar o blogue “Foz do Rio Trancoso”
onde se publica uma crónica desde o Rio de Janeiro, por quem conheceu bem esta
realidade. Manuel Félix Igrejas é quem assina a crónica, e outros seus
familiares, por certo, também encontrei citados ao longo dos anos em que "viajei" por Melgaço, no comboio dos seus jornais.
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