Futebol Saudade

Desde que, há mais de 100 anos, se fez o primeiro campeonato de futebol em Portugal, que a "passerelle", que é a vida desportiva, viu desfilar milhares de clubes.
Uns ainda hoje existem, pujantes e vigorosos até, outros, embora perdendo protagonismo, ainda resistem. Mas muitos ficaram pelo caminho.
Passaram ao futsal, deixaram o desporto, ou fecharam mesmo as portas. É dos que partiram (e não só), que aqui vamos tentar deixar a memória.




sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Viana do Castelo - o seu peculiar trajecto no futebol



Durante 30 anos, o futebol no distrito não existiu. Isto é, sob a égide das instituições de futebol, caucionadas pela Federação Portuguesa, não se jogou no distrito.
As suas poucas equipas que não suportaram o “exílio”, fizeram-no no vizinho distrito de Braga. Isto apesar de um dos seus clubes, o Vianense Sport Clube, ser um prestigiado clube, e um dos mais antigos clubes desportivos portugueses, pois foi fundado em 1893.

Apesar de o futebol cedo ter chegado a Viana – 1923 é a data do primeiro campeonato – em 1943 a associação distrital fechou portas. Por falta de clubes, e de acordo com as diretrizes governamentais (DL 32946), teve de encerrar. Os 2 clubes filiados, Vianense e Limarense, não faziam os mínimos de 3, indispensáveis às novas regras do Estado Novo.
Só em 1972/73 regressava o campeonato de Viana. E logo com 10 (dez!) equipas. Por aqui se presume a vontade reinante.

Mas foram várias as manifestações de inconformismo, e diversas as formas de fazer voltar o futebol ao distrito. O oficial, pois o “outro” nunca faltou.  
Logo  em 1944, o Vianense decide organizar um Torneio Popular, e este atraiu muitas equipas, sendo que algumas delas ainda hoje as reconhecemos:

Lanhelas
Atlético Caminhense
Lanheses FC
Atlético Vianense
Ancorense
Leões do Carmo
Desportivo Santamartense, e
Neves FC.

Neste período de pousio, também se jogou futebol na FNAT, que iniciou as suas competições em 1951, e atraiu bastantes localidades a jogá-lo. Nesse ano, teve a “concorrência” do jornal Aurora do Lima, que organizou um Torneio Popular, que mais não era que o preambulo da campanha que encetou, na perspectiva da reorganização da associação distrital de futebol. Também aqui se encontram muitos dos históricos do distrito.
O torneio começa em 13 de Maio, e termina em 5 de Agosto, com a vitória dos Torreenses de S. Pedro da Torre. (1)




















Entretanto o Vianense jogou os nacionais de 1943/44 sem ter passado por qualquer distrital. A AF de Viana sugeriu que competisse em Braga, mas os clubes locais não concordaram, e o Vianense apura-se sem jogar. Na época seguinte, contudo, faz a sua estreia em Braga, onde haveria de ficar apenas por 3 anos, já que ingressou nos nacionais, onde esteve quase sempre.
Também quase desde logo teve a parceira do Atlético de Valdevez e do Monção, nos distritais de Braga, onde haveria de chegar, em 1967, o Valenciano. Todos regressaram a casa em 1972/73.

Os “estreantes”:
Ancora Praia
Cerveira
Courense
Lanhelas
Monção
Neves
Nogueirense
Ponte da Barca
Atlético Valdevez
Valenciano
Mas naquele espaço de tempo, houve muitos inconformados com a inexistência de competição oficial no distrito, e por isso surgiram várias tentativas para o ressuscitar, como foi o caso do Aurora do Lima que, em 1951, organizou um Torneio Popular, que reuniu muitos clubes, de todo o distrito, e que inspirou o jornal para uma forte campanha para a reabertura da associação distrital. Mas alguns clubes são contra! Vianense, com a concordância do Monção, e mais tarde do Atlético de Valdevez! O que os movia? Fomos tentar saber.

A intensa campanha que o jornal de Viana empreendeu, para a reorganização do futebol no distrito, suscita entusiasmos e aderências de peso, mas culmina com um forte contencioso entre o delegado da DGD e a direcção do Vianense, que havia aliciado outros clubes para se oporem à pretensão do jornal, e cujas “razões” ficam documentadas na conferência de imprensa em que esclareceu publicamente das suas razões.
E a realidade é que o Vianense impôs o seu ponto de vista, pois só em Julho de 1971, vinte anos depois do início da campanha do jornal,  a AF (3) reabre as portas.

Em anexo, a edição de 22 de Junho, onde se conhecem as razões da oposição.

(1)    – edições do Aurora do Lima com referencias ao torneio
27 Abril, 4, 8 e 11 de Maio; 26 Junho, 27 Julho, 3 e 7 de Agosto

(2)    – Aurora do Lima com intervenções sobre o objectivo de reorganizar a AF.
16 Jan, 23 Mar, 3, 13, 24 de Abr., 22 Jun., 13, 20, 24 Jul.

(3)    – Aurora do Lima visando a reorganização da AF.
2 Jun., 31 Jul, 4 Ago (1970) e 21 Mai., 1 Jun., 27 Jul, 7 Dez (1971)





 



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