Futebol Saudade

Desde que, há mais de 100 anos, se fez o primeiro campeonato de futebol em Portugal, que a "passerelle", que é a vida desportiva, viu desfilar milhares de clubes.
Uns ainda hoje existem, pujantes e vigorosos até, outros, embora perdendo protagonismo, ainda resistem. Mas muitos ficaram pelo caminho.
Passaram ao futsal, deixaram o desporto, ou fecharam mesmo as portas. É dos que partiram (e não só), que aqui vamos tentar deixar a memória.




quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Futebol na Guarda - a peculiaridade de Gouveia


Quando se fala do futebol na Guarda, sempre se enfatiza a circunstância de por aqui nunca ter havido um clube a jogar ao mais alto nível.
Também é recorrente na análise à realidade do distrito, salientar que foi este o último distrito a criar uma associação distrital, facto demonstrativo de pouco interesse pelo futebol.
Por fim, que não por último, vem sempre à baila a tardia construção do campo de jogos.
Mas estes factos estão longe de caracterizar o padrão de aceitação do futebol por aqui.
É certo que os clubes da cidade não abundam na história do futebol local, e também o tardio aparecimento de um campo apropriado a jogar-se o futebol foi, talvez, uma das razões da pouca aderência ao futebol.
Na cidade mesmo, embora os clubes se tenham sucedido, não criando raízes, e por isso, talvez essa circunstância responda pelo pouco relevo do futebol na urbe.
Contudo é justo que se saliente um concelho onde ele teve grande relevância, aderência, e diversidade. Gouveia, e dela que falamos,  teve um período de forte entusiasmo, ainda não se tinha chegado aos anos vinte. Do século passado.
O primeiro “campo”, limpo de ervas e pedras, ficava nas Tapadas. Era aí que se exercitavam os do Sport Club Gouveense, que será depois substituído pelo Atlético Sport Club, que por sua vez é a raiz  do Sporting, de tantas tardes de futebol.
Voltando à capital do distrito, já em 1927 se detectava a actividade do Sporting Egitaniense, que jogou, então, na Guarda com o Sporting de Gouveia, provavelmente no campo do quartel, frequentemente citado.
 Mas também por esta época já o Grupo Desportivo dos Empregados no Comércio, que por vezes era acolhido no campo de jogos do quartel, fazia os seus desafios. Como se vê, também a Guarda se entusiasmava com o futebol.
Nos finais dos anos 30, mais propriamente em 1939, viu começar a construção do seu campo, que teria uma morosa gestação, e em 1945 vê nascer a sua AF, fruto do impulso generoso de alguns funcionários bancários, entusiastas do futebol, o que permitiu que a sua “sede” tivesse por algum tempo a honra do acolhimento do Banco de Portugal.
Pelo que afloramos, se vê como terão sido ricos de peripécias e entusiasmos, estes primeiros tempos, de que infelizmente se não fizeram adequados relatos.
O entusiasmo que os primeiros anos de futebol criou em Gouveia, fez logo aparecer vários clubes. Em Gouveia surge o Sporting, logo secundado pelos de S. Paio, com os Serranos.
Desde logo se tratou de arranjar campos de jogo, com o Sporting a alugar um terreno no Farvão, e os Serranos no Seixal.
Aquele não durou muito, já que os alugueis representavam esforços financeiros muito grandes, que levavam ao abandono. Do campo ou da actividade.
Mas a persistência do Sporting salientou-se, e o clube abalançou-se a jogar os distritais de Viseu, tendo contudo abandonado esta solução, que os obrigava a jogar sempre fora de Gouveia, e portanto os sujeitava a grandes despesas. Mas o clube persistiu, e tentou até criar uma associação distrital, mas não encontrou receptividade nos da Guarda e nos de Celorico.
Neste espaço de tempo já os Serranos tinham deixado o futebol (voltariam em 1946), e o campo no Farvão já tinha voltado às verduras, pelo que o Seixal era o único recinto na cidade.
Mas o seu proprietário reclamou a sua posse, e Gouveia ficou-se sem campo por alguns anos.
Em 1936 a Câmara cedeu um terreno anexo às suas instalações, para o Sporting passar a dispor de recinto de jogo.
Mas tal não se concretiza, e o Sporting entra em letargia, o que havia de acontecer por alguns anos.
Entretanto os Gouveenses recuperam o Seixal, e é aí que se joga por algum tempo. Inclusive o Sporting, quando retoma a actividade. E curiosamente, é ainda Os Gouveenses quem reassume o Farvão, o recupera, e o põe ao serviço do futebol.
É interessante a história do futebol em Gouveia. Sempre se jogou, se excluirmos os anos iniciais, entre o Seixal e o Farvão. Pode não ter sido exactamente no mesmo local, mas estes 2 sítios são o berço do futebol.
Fica aqui a resenha possível destes primitivos e generosos tempos, contados naquilo que os jornais guardaram para memória futura.
Hoje a Guarda tem um clube, e a hoje cidade de  Gouveia, conta também com um só.



Recortes e efemérides
Sporting de Gouveia em Viseu
memórias do fundo do baú
Os primeiros 25 Campeonatos




1 comentário:

ancama disse...

O Grupo Desportivo "Os Serranos" não foi fundado em S. Paio, mas sim na sede do concelho, na então Vila de Gouveia.
Teve na sua base os estudantes de Gouveia e S. Paio e a sua ligação à cidade universitária de Coimbra. A cor dominante dos seus equipamentos sempre foi o preto, secundado pelo branco, numa alusão à Associação Académica de Coimbra.
Oficialmente a sua data de fundação é 25 de Julho de 1925,mas conhecem-se relatos da sua existência já em 1923.
Em 1933, o clube muda a sua sede para a aldeia de São Paio, que dista 3 Km de Gouveia, onde hoje ainda se mantém.
Foi um dos clubes fundadores da AF Guarda, sendo que dos nove participantes na prova inicial, em 1945/46, a Taça Iniciação, mais de metade (5) eram do concelho de Gouveia, 3 da Guarda e 1 de Pinhel.
Os clubes do concelho de Gouveia venceram um terço dos campeonatos distritais da 1. Divisão, num distrito com 14 concelhos, onde já todos eles tiveram pelo menos um vencedor.