Factor essencial ao jogo, foi desde sempre o motivo principal de diferenciação dos clubes. Quem tem, e quem não tinha, encontrava no campo o factor de prestígio e importância que os diferenciava.
Não
esqueçamos que o futebol rapidamente se tornou uma popular ocupação dos tempos
livres dos mais simples, passado que foi o aristocrático período inicial que
serviu, fugazmente, de deleite, aos ricaços de então.
Acontece até,
que o primeiro jogo de que há relato, se deu nos greens do Oporto Cricket Club,
ali ao Campo Alegre. Meteu até presença real, que ofertou uma linda taça para o
vencedor. Assim rezam as crónicas.
E é em
Matosinhos, no hipódromo, que alguns pioneiros como Nicolau de Almeida, joga com
os “players” de Mário Duarte de Aveiro e com o Clube Lisbonense, do colégio do
mesmo nome.
Mas
rapidamente o futebol desceu de tais palcos, e tratou de arranjar sítio onde o
jogar.
Obviamente
que a penúria dos “players” levou-os a jogar em terrenos públicos, onde o
espaço se “adaptasse” às exigências futebolísticas.
Por aqui, e
desde logo, o baldio de Arca D’Água, ainda sem jardim, serviu às mil
maravilhas.
Outro “campo”
de então ficava na serra do Pilar. Descampado junto ao quartel, sendo até o seu
campo de manobras, e pertença daquele, servia de palco aos jogos que então se
faziam, com a benevolência militar, por certo.
Mas outros
sítios iam sendo citados, nestes primeiros anos do século transacto.
Frequentemente
se fala do campo da Construtora, forte empresa de construção civil e matériais
de construção, que contudo fechou portas em 1907. Onde ficaria o “seu” campo?
Também por
esta altura se ouve falar do campo de Coutinho de Azevedo, rua que fica no
Bonfim. Provavelmente um qualquer terreno vago que por ali haveria.
Em 1915, de
acordo com o CP de 28 Fevereiro, pg 3, era o campo do Olímpico Ideal Clube (tb.
PJ 9 Janeiro 1915, pg 3).
É por estes
tempos ainda que, embora de forma fugaz, se fala do campo de Gomes Leal (às
Eirinhas, no nº 101), zona do Bonfim de muitos bairros operários, onde é crível
que se tenha improvisado mais um espaço “adequado” ao jogo, pois o sítio ainda
hoje dispõe de muitos espaços…
Nesta época,
passou a cidade a contar (desde 1906), com um campo de top. Foi o campo da rua
da Rainha, o primeiro relvado português, e que serviu o Futebol Clube do Porto,
que contudo teve de o deixar à expansão da fábrica de Salgueiros, que com ele
fazia extrema.
Segue-se
(1912) o campo da Constituição, que chega até hoje, agora chamado de Vitalis
Park.
Mas voltemos
ao pioneirismo dos campos de antigamente. Junto ao Conde de Ferreira, hospital
de psiquiatria, existia um vasto espaço, onde se fazia mercado de levante. O
sítio era conhecido por Cruz das Regateiras. Era aí que ficava o campo da Cruz,
que serve a vários clubes. Ficava na rua Costa Cabral, como diz claramente o JN
de 9 Outubro 1915, pg 3, e foi aqui que o novel Académico fazia inicialmente os
seus jogos, até que um seu simpatizante, decidiu dispensar-lhes um terreno em
Ramalde, onde o clube esteve até à criação (1923) do seu estádio do Lima.
Nestas
primeiras décadas do século passado, começam a despontar variados sítios para
se jogar o futebol.
Alguns já bem
estruturados e avançados para a época. É assim que o Nun’Álvares se instala no
Carvalhido, onde o seu complexo até dispõe de piscina! Mais tarde falou-se de
ser aqui o estádio da cidade, que passados 100 anos, muitos estudos, e várias
recolhas de donativos, ainda espera ser construído!
Actualmente é
espaço municipal, adaptado a várias actividades da autarquia, onde não entra o
desporto.
Na Boavista,
desde cedo que o clube daqui se instalou de armas e bagagens nos terrenos do
Bessa, opulento proprietário, que crismou o sítio, já que o campo foi baptizado
pelo clube de Mascarenhas Júnior.
Discreto,
deparamo-nos com um muito antigo campo em Ramalde, antecedendo até o do
Académico. O acesso fazia-se a partir da
rua do Pinheiro Manso. Ramalde-B era o nome porque era conhecido, e começou por
servir a vários clubes. O seu titular era a União Cooperativa de Desporto.
Posteriormente,
o Ramaldense foi um dos seus utilizadores, antes de passar ao campo do
Académico (Agra - Ramalde), donde o clube foi despejado em 2011, e conhecido
então por campo Alberto Araújo.
Na Foz, muito
antes do campo da Ervilha, e servindo ao União local, existiu um campo na rua
de Gondarém. E outro na rua de Liege!
O Progresso,
que começou por usar o baldio de Arca D’Água, viu-se desde cedo (1919) no seu magnífico
campo do Amial, recinto que viu muitos jogos internacionais.
Também o
Salgueiros haveria de se instalar nos vastos terrenos de Paranhos, adaptando um
matagal cheio de lixo e árvores, na rua Álvaro Castelões, a um magnífico
recinto (Covelo), donde viria a ser despejado (1934), pela usura do seu
proprietário.
Os anos
passaram, e o terreno quase que voltou ao estado natural. Foi a autarquia, quem
recentemente requalificou o espaço, criando ali uma excelente zona verde.
O Salgueiros,
esse viu-se na necessidade de procurar outro espaço, que encontrou na rua
Augusto Lessa. Só recentemente o espaço, entretanto baptizado de Vidal
Pinheiro, deixou de servir ao futebol, transformado que foi, numa estação de
Metro.
Mas na
vizinhança deste campo do Covelo, havia um antigo campo, que foi designado pelo
campo do Invicta (o Sport Clube), mas também serviu a outros. Desde logo à
União do Norte, conforme esclarece o CP 28 Fevereiro 1915, pg 3. Ficava na rua
da Igreja de Paranhos, aquela que do Campo Lindo nos leva à igreja de Paranhos,
e que a auto-estrada veio descaracterizar).
Mas noutros
lados da cidade se iam detectando campos dedicados ao futebol, que muitas eram
as colectividades que o queriam jogar.
Na
Praça das Flores (a) logo no início dos anos 20 surgiu um campo que serviu, e
não só, ao Clube Desportivo do Porto. O campo não teria as melhores condições,
e a revista “Sporting” faz uma campanha contra ele, chamando-lhe quintalejo, e
dizendo-o perigoso, pois era atravessado por muitas linhas de alta tensão.
Dizia
o jornal, que o campo era aprovado, por ser do Desportivo do Porto.
O
clube havia alugado um terreno na desaparecida travessa da Fonte Velha, e é ali que
instala o seu campo da Belavista. Mas também ali não teria vida fácil, já que o
dono dos Leões do Freixo, um abastado comerciante, compraria o campo para o seu
clube, que posteriormente serviria ao Faísca, clube do electricistas da União
Eléctrica na rua do Freixo.
Mas os do
Clube Desportivo eram de têmpera, e voltam a alugar um terreno na rua dos
Navegantes, é ali que instalam o seu
campo (ver JN 9 Janeiro 1937, pg 8). Este, na fase final da sua vida era usado
pelo Bonfim, e daí o nome de campo do Bonfim que o identificava. Mas o nome de
baptismo era Soares Martins, assim baptizado em 1938 em homenagem a um seu
atleta. Acabado o Bonfim para o futebol, foi o terreno destinado à finada
Escola de Oliveira Martins. Posteriormente instalou-se ali a decorativa Soares
dos Reis, e o que resta do campo está actualmente à venda, para mais um
provável caixote com muita gente.
Ainda antes
do Lima ser campo (1923), já nas suas cercanias – rua da Alegria, esquina da
Constituição, existia (1914), um campo
do futebol, que ficou conhecido pelo campo do Luso.
Foi o
Sporting Clube Nacional, agremiação mais vocacionada para desportos náuticos,
quem comprou o terreno na desaparecida travessa do Seixal, por onde se acedia
ao campo.
Em 1924
alia-se este clube ao Portugal Futebol Clube, surgindo daí o Luso Atlético
Clube que deu o nome ao campo, que a partir de 1938, quando o clube se
extingue, fica na dependência do Académico. Na década de 60, o proprietário
(Misericórdia do Porto), urbanizou-o.
Mas não se
ficam por aqui os muitos palcos do futebol, na cidade.
Desde cedo que,
junto à estação de Campanhã, surge um campo de futebol, que ainda hoje lá está.
Em agonia, mas ainda servindo ao velhinho Desportivo de Portugal.
Conhecido
agora por Ruy Navega, começou por ser o campo de Benjóia (curiosamente também,
por estes dias, diz-se Bonjóia).
A certa
altura da sua vida, passou a servir ao grupo desportivo de uma fábrica de
esmaltagem das imediações, a Mário Navega, e por isso passou a ostentar o nome
do seu presidente, e filho do dono da fábrica. Já agora, neto também do
fundador dela. O senhor Minchin.
Por vezes
aparece a citação do campo Mário Navega, mas isso foi nome que nunca teve.
Trata-se apenas de o relacionar com a fábrica, sua proprietária.
Extinto o
clube, acabada a fábrica, o Desportivo voltou às origens.
Também o
desporto corporativo viria a ter os seus espaços próprios. Os ferroviários,
através do seu clube, criam um espaço designado por campo de Vila Meã, que é o
lugar onde se instalou, e que hoje serve de leito à auto-estrada. Mas este
campo também era designado por Bonjóia, nome alargado do sítio. Mas
oficialmente o campo era designado por engenheiro Sousa Pires.
É mais ou menos por
alturas de 1924, que se inaugura um novo campo de futebol. Começa por ser
chamado de campo de Lamas, e serve ao Sporting da Cruz ainda hoje. Adoptou
posteriormente a designação de campo do Outeiro.
É também dos anos
vinte, a implantação do campo das Cavadas. Era o campo do Vigorosa, que embora
tenha estado no futebol, fê-lo sempre de forma insípida. O campo, que ficava
próximo do estádio das Antas, e foi cortado ao meio pela estrada que mais tarde
serviu de leito à auto-estrada, em Costa Cabral , junto ao Conde de Ferreira. Inicialmente
serviu ao Clube de Tiro do Porto, instalado então na Quinta do Calvário.
Mas nesta
viagem pela memória dos campos na cidade, temos de citar aqui um primitivo
campo, que ficava na travessa da Avenida de França (!), e que serviu ao Grupo
Sportivo Estrela, um daqueles pioneiros dos princípios do futebol nestas
bandas. Ainda não conseguimos localizá-lo.
Outro campo
dos primeiros tempos, e que até promoveu uma fusão dos clubes da cidade – o
Sporting Clube de Francos, que tinha um campo junto à linha do comboio e da rua
Airosa, e o Figueirense Futebol Clube, que jogava na Senhora da Hora. Mas estes
voltam ao futebol, e o Figueirense foi jogar para Corim. Mas também daqui o
clube foi despejado, pois o senhorio vendeu o campo, e o Figueirense viu na
fusão com os de Francos, uma saída. Nascia assim a União de Francos
Figueirense.
Entretanto a
cidade viu nascer outros campos, mas esses muito mais recentes, e activos.
Falamos dos
recintos do Inatel, Universitário, Antas e depois Dragão, Cerco do Porto….
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(a) – Não tem
sido fácil localizar este campo. Mesmo de gente contemporânea, que sempre viveu
nestes sítios, a resposta, quando perguntados pelo campo da Praça das Flores,
é:
“aqui nunca
houve nenhum campo!”
E realmente,
juntando todas as peças, tudo aponta para o Belavista, que tem início nos anos
anteriores à formação da AF Porto. Baseio-me no que fica dito.
O campo da
Praça das Flores
Surge o Clube
Desportivo do Porto no futebol da Promoção em 1926.
Consta nos
jornais da época que este clube terá desde logo alugado e adaptado um terreno
na travessa da Fonte Velha, próximo da rua de S. Roque da Lameira.
O clube joga
aqui desde logo, e em 1928 vê o seu campo vistoriado e aprovado pela AF (1).
Nesta
circunstância, seria este o sítio do primitivamente designado por campo da
Praça das Flores?
Entretanto, a
revista “Sporting” (2) fala deste campo, dizendo-o exíguo – chama-lhe mesmo “quintalejo”,
e além disso diz que ele é perigoso, por ser atravessado por várias linhas de
alta tensão.
Ora é
exactamente na pista destas linhas, que elaboramos a convicção de que o citado
campo da “Praça das Flores” é, nem mais nem menos, do que este campo da
Belavista.
A ser assim, a
origem do campo será remota, pois já em 1913 o CP apresentava uma convocatória
do Triumpho SC para este campo (3).
Voltando às
linhas, identificamos duas antigas sub-estações nesta zona, (Freixo, que era
uma central termoeléctrica. e Antas – rua Monte da Costa), que unidas em linha
recta, atravessam o citado campo.
Fica assim
convencionado que o campo da Praça das Flores é o campo da Belavista. Até
porque que campo seria aprovado ao CD do Porto em 1928, senão este?
Contudo,
posteriormente venho a ler num jornal (4), um informe a citar o campo da Praça
das Flores no nº 46!
(1)
– JN 19 Fevereiro 1928
(2)
– Sporting Março 1928
(3)
– CP 28 Janeiro 1923
(4) – PJ 7
Fevereiro 1914
Sporting Clube
do Porto, cuja sede ficava na travessa de Campanha, 49-2º fazia o seguinte
comunicado:
a Direcção participa a todos os seus
associados, que o campo de jogos do clube sito à Praça das Flores nº 46, se
encontra à sua disposição todos os domingos e feriados nacionais, pelo que
ficam convidados a nele comparecerem, para assim se utilizarem dos seus
direitos.
O secretário – Ilídio Barbosa
campo
|
ano
|
clube
|
Observ
|
Benjoia
|
Desp. Portugal – Ruy Navega
|
||
Construtora
|
|||
Cruz das
Regateiras
|
Académico
|
||
Ervilha
|
Foz
|
||
Francos
|
|||
Gomes Leal
|
|||
Invicta
|
em Paranhos – citado 1923
|
||
Ramalde
|
Académico
|
depois Ramaldense
|
|
Ramalde-B
|
|||
Serra do Pilar
|
Em Gaia
|
||
União Foz
|
Na rua Marechal Saldanha
|
||
Raínha
|
1906
|
FC Porto
|
|
Bessa
|
1911
|
Boavista
|
Mascarenhas Júnior
|
Constituição
|
1912
|
FC Porto
|
|
Praça das Flores
|
1913
|
citado em 1923, aprovado em 1928
|
|
Luso
|
1914
|
Luso Atlético
Clube
|
depois do Académico
|
Carvalhido
|
1915
|
Nun’Álvares
|
|
Covelo
|
1922
|
Salgueiros
|
|
Amial
|
1923
|
Progresso
|
|
Lima
|
1923
|
Académico
|
|
Cavadas
|
1924
|
Vigorosa
|
|
Belavista
|
1926
|
CD Porto
|
depois do Faísca e Sport Cl. Porto
|
Vidal Pinheiro
|
1932
|
Salgueiros
|
|
Bonfim
|
1937
|
CD Porto
|
Soares Martins
|
Vila Meã
|
1941
|
Ferroviários
|
Eng. Sousa Pires
|
Progresso
|
1947
|
Progresso
|
Cp. Queirós Sobrinho (rua Amial)
|
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