Foi tão forte o
entusiasmo, era tão aliciante o jogo, que “clubes” foi coisa que não faltou.
Qualquer fábrica ou
fabriqueta, a que se juntavam os bairros operários que as circundavam, faziam
aparecer “clubes”.
Em 1914, acabadinha
de fundar a associação distrital, numa contagem superficial nos primeiros 3
meses do ano, no jornal O Primeiro de Janeiro, foi possível apurar 49 “clubes”.
A pretensão deles
era competir, mas a sua singeleza rudimentar, aliada também à extrema penúria
dos seus, fazia com que qualquer sítio servisse de campo de jogo.
Não foi o fenómeno
devidamente retratado nos jornais da época, que dirigidos por velhos
conservadores, ou até ministros da igreja, viam neles o Satanás, e vai de os
marginalizar. Mais.
Por isso que pouco
tenha chegado até hoje, pois até as associações de classe eram duma extrema e
descuidada organização, que não preservou devidamente as memórias.
Anexamos um mapa dos
primeiros 25 anos, que pretende retratar os clubes que faziam parte da
associação de futebol, estando nela filiados. Embora nem todos competissem, a
perspectiva de alguns deles era permitirem-se dispor de campo, alugado pelos
que os detinham, circunstância que de outra forma só lhes deixava o espaço
público para jogar. Mas aí não era nada fácil.
Em 1915, o Porto
alugava o campo ao Salgueiros de então, a 15 tostões por jogo (e 2 por toalha!).
Os campeonatos da
Liga Invicta, a Promoção, e até o Campeonato de Amadores, que acabou já nos
anos 2 mil, todos têm uma matriz comum. Por alvo, os descamisados. Clubes sem
campo. Sem campo, pela simples razão que não tinham meios para o aluguer de um
qualquer lameiro, adaptável a campo, e que sobrevivesse á ganância dos
senhorios. Ainda hoje há milhentos exemplos disso na cidade. O mais emblemático
é o do Lima. 60 anos após o despejo, ainda as ruínas se lá conservam.
Mas o dia-a-dia dos
primeiros anos, foi algo de febril. Surgiam grupos por todo o lado, a maioria
numa penúria de todo o tamanho (basta ler sobre os jogos surrealistas de 3ªs e
4ªs categorias, onde os atletas se apresentavam com indumentárias variadas, de
cores diversas, calças arregaçadas e presas por corda, e onde o pé descalço não
era incomum! O futebol em toda a sua singeleza.
De tal modo foi
este proliferar de clubes, a que a AF punha muitas restrições, mas que a torna
incapaz de suster esta avalanche, que a leva a acolher uma organização surgida
na cidade (1926), que visava dar guarida aos modestos clubes, que não dispunham
de campo. Era a Liga Invicta.
Isto teve o efeito
de motivar entusiasmos, e fazer aparecer muitos mais grupos. De tal ordem, que
não restou outra solução que não fosse a triagem. Surge assim a obrigatoriedade
de estes clubes apresentarem alvará. Este era passado pelo Governo Civil, e uma
das cláusulas para o obter, era apresentar uma planta da sede!
As tascas, sedes “preferenciais”
de muitos, ficaram logo de fora. Voltas deste extraordinário fenómeno social,
que tem por personagens principais os “descamisados”
Em anexo um PDF caracterizador da realidade dos
primórdios do futebol no distrito (AQUI)
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