Futebol Saudade

Desde que, há mais de 100 anos, se fez o primeiro campeonato de futebol em Portugal, que a "passerelle", que é a vida desportiva, viu desfilar milhares de clubes.
Uns ainda hoje existem, pujantes e vigorosos até, outros, embora perdendo protagonismo, ainda resistem. Mas muitos ficaram pelo caminho.
Passaram ao futsal, deixaram o desporto, ou fecharam mesmo as portas. É dos que partiram (e não só), que aqui vamos tentar deixar a memória.




segunda-feira, 26 de julho de 2010

Futebol na Ramada Alta

(Cedofeita - Porto)

A primeira referência ao futebol é de 1923. No 294 da rua 9 de Julho, existia então o Mocidade Sport Clube. Situação normal, atendendo a duas circunstâncias então existentes:
- o futebol estava então numa fase de grande entusiasmo popular, com o surgimento diário de novas “equipas”, e a zona ser de grande concentração operária, dadas as muitas fábricas então existentes.
Por isso que também nesse ano se detecte um Marinho Foot Ball Club, na rua da Bouça, 150, que terá passado também pela rua Marques Marinho.
Não sendo estas colectividades dotadas de grandes recursos, a sua prestação desportiva era aleatória e casuística. Os jornais então, também não davam ao fenómeno a atenção devida, pelo que a informação, além de escassa, era também pouco rigorosa. Mas mesmo assim, detecta-se uma tentativa de participação destes clubes, caracterizados por não disporem de campo, e que em 1927 se organizam numa designada Liga Invicta, que organiza uma competição regular. Estes Mocidade e Marinho, são um dos participantes.
Também nas redondezas aparece um Grupo Desportivo Oliveira Monteiro. Dele se referem sedes distintas, embora em datas distintas. Uma delas numa das ruas do Campo Pequeno, e a posterior na rua do Conde.
Com este clube ocorre um caso interessante, com a direcção da Liga Invicta a expulsá-lo das suas competições, por ter jogado com colectividade não legalizada. Mas os seus dirigentes terão provado que nada tinham a ver com essa equipa, que terá usado abusivamente o seu nome(!), e assim foi readmitida nestas competições populares. Mas o clube deve ter passado por dificuldades, e em 1933 uma carta da direcção ao JN dava conta da sua indignação pela notícia, falsa diziam eles, da sua extinção. O que é facto é que não volta a notar-se a sua participação em manifestações desportivas.
Mas 1931 trás a fundação de um clube que ainda hoje existe, embora sem quaisquer actividades desportivas. Era o Alma Portuense Futebol Clube, na rua Marques Marinho. Participa nos campeonatos da Promoção, mas fica-se por aí.
Entretanto nada mais se detecta, e a Liga extingue-se pelos meados dos anos trinta. Os clubes populares, embora menos agora, continuam a fazer força para entrar nas competições da associação de futebol, mas esta rejeita-os. Mesmo assim, cria uma competição a que chama Promoção, como peneira de entrada nas competições regulares. Mas isto não satisfaz esses clubes, e o Jornal de Notícias, sempre atento a estas manifestações populares, decide organizar o Campeonato Popular do Porto. Acorrem muitas dezenas de “colectividades” sem um mínimo de condições. Por isso, e numa manifestação de boa vontade, o jornal analisa a situação e aconselha algumas fusões. Estas chegam a ser determinadas pelas ditas “entidades oficiais”, sempre atentas ao Associativismo. Não esqueçamos que estamos em pleno “Estado Novo”. Assim, e tendo surgido um Dragões 9 de Julho Futebol Clube, provavelmente no entusiasmo deste campeonato, é feita a “sugestão” da fusão com outra colectividade das proximidades, o Leões de S. Diniz Sport Clube. É assim que o I Campeonato de Futebol Popular do JN conta entre os seus participantes com um Leões 9 de Julho Futebol Clube. Mas no II Campeonato quem aparece é um “novo” Clube de Futebol Leões de S. Diniz. A sociedade tinha-se desfeito, e afazer fé em relatos de quem viveu a situação, foi o presidente dos Leões que “arrematou” todo o património do novo clube e do 9 de Julho, e o levou para aquela rua ( a sede do antigo, e agora novo Leões de S. Diniz.!).
Acabado também o campeonato Popular, também por aqui os movimentos desportivos cessam. Pelo menos nas notícias. Mas nos inícios de 60 o JN reincide, e propõe-se organizar o Campeonato de Amadores do Porto. Logo surge o Riviera Futebol Clube. Equipava à Salgueiros: camisola vermelha, e calções brancos. Como o nome indicia, terá surgido no âmbito do café com o mesmo nome que ainda ali existe, na esquina de 9 de Julho com Nª Sª de Fátima. Embora não se referencie a sua participação no Campeonato de Futebol Amador da AF do Porto, não será coincidência o seu aparecimento ter surgido por causa dele. Mas a vontade de participar não chegou, e o clube fica-se pelos jogos populares de vez em quando. Não se detectou quando deixou de existir, mas em 1975 funda-se ali um “Unidos ao 9 de Julho”, que fazia do café Riviera a sua base. A prova eram as diversas taças ali expostas. Identificava-se o clube pela sua camisola verde, e calção branco. Posteriormente o clube transitou para outro café na rua 9 de Julho, que hoje se chama Tio Tono (Matrix neste Junho de 2008). Mas parece que o clube já se extinguiu.
Este Grupo Desportivo Unidos ao 9 de Julho teve larga e proveitosa participação no futsal. O cicloturismo também foi actividade de muita intervenção, mas o definhamento da cidade, onde esta rua não foi excepção, levou as suas gentes a promoveram o seu desaparecimento pelos meados dos anos noventa.

É ainda de salientar outro clube surgido (1955) nesta área, obra de um padre, que viu nisso uma forma de ocupação da juventude, e formou um clube com sede na rua da Bouça, 114, que só há pouco tempo (2004) fechou portas. Chamava-se ONAR (Obra da Nazaré de Assistência a Rapazes). Foi assíduo participante do Campeonato de Amadores da AF Porto/JN.
Mas ainda aqui, Ramada Alta, podemos citar um clube que se dedicou ao futebol de salão, e teve mesmo na sua sede, ao cimo de Barão de Forrester, no último prédio entretanto demolido, junto ao café Primor, um pequeno ringue dedicado ao futebol de salão, antecessor do actual futsal. O clube chamava-se Águias do Rosário.

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