Futebol Saudade

Desde que, há mais de 100 anos, se fez o primeiro campeonato de futebol em Portugal, que a "passerelle", que é a vida desportiva, viu desfilar milhares de clubes.
Uns ainda hoje existem, pujantes e vigorosos até, outros, embora perdendo protagonismo, ainda resistem. Mas muitos ficaram pelo caminho.
Passaram ao futsal, deixaram o desporto, ou fecharam mesmo as portas. É dos que partiram (e não só), que aqui vamos tentar deixar a memória.




sábado, 4 de setembro de 2010

O campo da Bela Vista em Campanhã
















Campanhã é, nos inícios dos anos 20 do século XX, uma populosa freguesia da cidade, onde imensos bairros albergam a grande massa humana que labuta nas suas fábricas, armazéns e outras instalações industriais.

Por isso a febre do futebol que, por estes anos, atravessa o país, também aqui se faça sentir.

Um grupo de rapazes entusiastas, mas modestos, criam o primeiro clube organizado (?), destas bandas. Dão-lhe o sugestivo e bonito nome de Miraflor Futebol Clube. Era o nome da rua onde a maioria vivia. Mas o clube não crescia, dadas as insuficiências financeiras, e levaram outros à criação de um novo clube, que pudesse chegar ao futebol a sério. Nascia o Clube Desportivo de Portugal. Mas cedo chegou uma cisão e, por isso, os lideres das respectivas facções promovam a inscrição de cada uma delas, com o peculiar nome de Clube Desportivo de Portugal nº 1 e Clube Desportivo de Portugal nº2!

A Associação faz um inquérito e, conclui da justeza do direito ao nome, de cada um dos grupos, decidindo contudo que o nome só pode pertencer a um.

Surge assim o Clube Desportivo do Porto e o Grémio Desportivo Portuense. Mais tarde, este seria o Clube Desportivo de Portugal dos nossos dias.

Mas a rivalidade acentua-se entre estes 2 únicos clubes, existentes nesta populosa freguesia, que dispõe dos seus recintos desportivos em Benjóia e Bela Vista. Os clubes passam a ser conhecidos pelos favaios ou azeiteiros, numa clara alusão ao negócio dos seus presidentes: o sr. Couto do Desportivo do Porto, vendia este excelente aperitivo, e o senhor Nogueira do Desportivo de Portugal, era negociante de azeites.

Entretanto, surgiria em 1935 um novo clube na freguesia, o Faísca, clube dos empregados da UEP (União Eléctrica Portuguesa), e com sede na rua do Freixo. (1)

Mas o Faísca cresce, com o apoio da empresa a que está ligado, e o seu presidente compra o alugado campo do Desportivo do Porto, o campo da Bela Vista. O Clube Desportivo do Porto tem de mudar de casa. Aluga um terreno que adapta, na rua Nau Trindade, e em 1937 atribui-lhe o nome de um seu atleta falecido: Joaquim Soares Martins. Este recinto, será posteriormente usado pelo Bonfim Futebol Clube, clube entretanto fundado, e que em 1946/47 chega aos distritais.

Mas o agora campo do Faísca passa a ter um uso diversificado, pois logo em 1936 o Sport Clube do Porto joga ali o seu hóquei em campo.

Hoje, o recinto do jogo ainda lá esta intacto, à espera duma daquelas urbanizações sem verde, em que a cidade é fértil.

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(1) - vinha fazer companhia ao clube dos Ferroviários, mais ligados a outros desportos, e com o futebol nos corporativos, que jogava no campo de Vila Meã, hoje ocupado pela auto-estrada.

2 comentários:

Baboman disse...

Boa noite

Estive a ler esta interessante história. Onde fica atualmente este campo?

victor sousa disse...

continua lá. Sem balizas, sem balneários, com o acesso pela travessa da Fonte Velha desaparecida pelo hospital que ali nasce, mas tudo o resto lá permanece, até um destes condomínios fechados, tipo aldeia de índios.