Futebol Saudade

Desde que, há mais de 100 anos, se fez o primeiro campeonato de futebol em Portugal, que a "passerelle", que é a vida desportiva, viu desfilar milhares de clubes.
Uns ainda hoje existem, pujantes e vigorosos até, outros, embora perdendo protagonismo, ainda resistem. Mas muitos ficaram pelo caminho.
Passaram ao futsal, deixaram o desporto, ou fecharam mesmo as portas. É dos que partiram (e não só), que aqui vamos tentar deixar a memória.




terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Faial, ilha açoreana



O futebol encerra histórias extraordinárias, algumas de comovente singeleza de história de “putos”, que foram, e serão o alforge da sua perenidade.

Também os Açores, quiçá pelo seu isolamento de então, têm na sua diversidade de ilhas, pitorescas peripécias.

Esta que segue, foi escrita por um dos pioneiros do futebol no Faial, Armando Amaral, que a conta, entre outras, no seu livro “A Bola, os Outros e Eu”

De papel, o primeiro troféu

Esses desafios escolares, entre simpatizantes dos velhos rivais, alcançaram tanto interesse que um dia resolvi pôr em disputa um troféu.
E, como só tinha papel branco, desenhei, às quatro panca­das, uma bandeira do Fayal Sport.
Por sua vez, o José Preguiça, bom amigo, mas rival na Bola, não querendo ficar atrás, e como tivesse muito jeito para desenho, executou primorosamente linda taça aos quadrados pretos e brancos, aliás, as cores do Atlético.
Ostentando, cada equipa, seu troféu de papel, foi-se para a contenda que prometia ser animada.
A notícia espalhara-se pelas outras classes, e nesse "meio-dia" a assistência era extraordinária.
E para que fosse, de facto, uma verdadeira final, à imagem dos "grandes", a coisa terminou mal, isto é, não faltando pro­testo e recurso à Associação, no caso, ao Senhor Professor.
Depois de uma luta renhida e equilibrada, acabámos por ganhar, com o golo da vitória marcado quase no final, com o qual os nossos adversários não concordaram, inventando falta.
Como não chegássemos a acordo, o José Preguiça negou-se a entregar a "taça".
Mas não nos demos por vencidos, antes pelo contrário.
Convencidos da legalidade do almejado golo que, por si­nal, tardara tanto a aparecer, mal o Senhor Passos chegou do almoço, expusemos o caso.
Após um inquérito breve, mas que me pareceu durar um século, pronunciou-se a nosso favor.
E ante a alegria de uns e a tristeza de outros, o José Pre­guiça, com lágrimas nos olhos, entregou-nos a sua querida "taça", em que tanto empenho havia posto, quer no desenho quer  a defendê-la.
Foi o meu primeiro troféu que, apesar de papel, jamais esquecerei.

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