Futebol Saudade

Desde que, há mais de 100 anos, se fez o primeiro campeonato de futebol em Portugal, que a "passerelle", que é a vida desportiva, viu desfilar milhares de clubes.
Uns ainda hoje existem, pujantes e vigorosos até, outros, embora perdendo protagonismo, ainda resistem. Mas muitos ficaram pelo caminho.
Passaram ao futsal, deixaram o desporto, ou fecharam mesmo as portas. É dos que partiram (e não só), que aqui vamos tentar deixar a memória.




quinta-feira, 25 de abril de 2013

"Democracias" do antigamente


Futebol de Amarante
Como a ARCA ficou a chamar-se assim…
(do blogue: http://caminhosdamemoria.wordpress.com/)
- Ó senhor deputado («senhor deputado» é a forma usual e genérica de tratamento entre deputados que não tenham uma relação pessoal muito próxima), calha bem encontrá-lo porque aqui o meu colega Moura e Silva tem um caso curioso para lhe contar.
Fernando Moura e Silva, com uns quinze anos em 1972, tinha sido eleito para a direcção da Associação Recreativa Aboinense, na sua terra natal, Aboim, no concelho de Amarante. Por isso distribuía na rua uns comunicados da ARA a Associação Recreativa Aboinense. O caso é que para as autoridades de então a associação podia ser recreativa e ser aboinense, agora o que não podia era usar a sigla ARA porque lhes feria os ouvidos.
«Andam aí uns miúdos a distribuir comunicados da ARA!!!», terá soado aos ouvidos das autoridades na sede do concelho.
O presidente da câmara achou prudente comunicar o caso ao representante local da DGS e este obviamente considerou indispensável investigar o caso. Fernando Moura e Silva e outros rapazes da ARA de Aboim foram chamados à Câmara para serem ouvidos pelo pide de serviço. Responderam como souberam e não era difícil. ARA só conheciam a sua! Como castigo tiveram de mudar o nome da associação. Passou então além de «Recreativa» a ser também «Cultural». Deste modo a sigla passou de ARA a ARCA para não agoniar os fascistas.
Tempo de PIDE, Peniche e Tarrafal. De Mocidade Portuguesa, Legião e saudação fascista. De censura prévia, prisão e exílio. De perda do emprego por razões políticas, de banimento da função pública e da Universidade… Tempos em que uma telefonista, ou uma enfermeira, não podia casar para não prejudicar o trabalho – ou se casasse perdia o emprego.
Não deixemos que se apague a memória do tempo do medo, arbítrio e opressão para melhor entendermos o que é a ausência de liberdade e a defendermos.

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