Futebol de Amarante
Como a ARCA ficou a chamar-se assim…
(do
blogue: http://caminhosdamemoria.wordpress.com/)
- Ó senhor deputado («senhor deputado»
é a forma usual e genérica de tratamento entre deputados que não tenham uma
relação pessoal muito próxima), calha bem encontrá-lo porque aqui o meu colega
Moura e Silva tem um caso curioso para lhe contar.
Fernando Moura e Silva, com uns quinze anos
em 1972, tinha sido eleito para a direcção da Associação Recreativa Aboinense,
na sua terra natal, Aboim, no concelho de Amarante. Por isso distribuía na rua
uns comunicados da ARA a Associação Recreativa Aboinense. O caso é que para as
autoridades de então a associação podia ser recreativa e ser aboinense, agora o
que não podia era usar a sigla ARA porque lhes feria os ouvidos.
«Andam aí uns miúdos a distribuir
comunicados da ARA!!!», terá soado aos ouvidos das autoridades na sede do
concelho.
O presidente da câmara achou prudente
comunicar o caso ao representante local da DGS e este obviamente considerou
indispensável investigar o caso. Fernando Moura e Silva e outros rapazes da ARA
de Aboim foram chamados à Câmara para serem ouvidos pelo pide de serviço.
Responderam como souberam e não era difícil. ARA só conheciam a sua! Como
castigo tiveram de mudar o nome da associação. Passou então além de
«Recreativa» a ser também «Cultural». Deste modo a sigla passou de ARA a ARCA
para não agoniar os fascistas.
Tempo de PIDE, Peniche e Tarrafal. De
Mocidade Portuguesa, Legião e saudação fascista. De censura prévia, prisão e
exílio. De perda do emprego por razões políticas, de banimento da função
pública e da Universidade… Tempos em que uma telefonista, ou uma enfermeira,
não podia casar para não prejudicar o trabalho – ou se casasse perdia o
emprego.
Não deixemos que se apague a memória do
tempo do medo, arbítrio e opressão para melhor entendermos o que é a ausência
de liberdade e a defendermos.
Sem comentários:
Enviar um comentário