Futebol Saudade

Desde que, há mais de 100 anos, se fez o primeiro campeonato de futebol em Portugal, que a "passerelle", que é a vida desportiva, viu desfilar milhares de clubes.
Uns ainda hoje existem, pujantes e vigorosos até, outros, embora perdendo protagonismo, ainda resistem. Mas muitos ficaram pelo caminho.
Passaram ao futsal, deixaram o desporto, ou fecharam mesmo as portas. É dos que partiram (e não só), que aqui vamos tentar deixar a memória.




sábado, 12 de outubro de 2013

Castelo Branco - os inícios


Já tivemos oportunidade de falar no nascimento do futebol oficial no distrito. Mas é óbvio que as suas raízes serão anteriores àquela fundação. Por isso fomos indagar delas, convictos de que as suas origens populares radicam no muito entusiasmo, flagrante falta de meios, e extraordinária imaginação, que leva a tudo superar. Procuremos os locais do jogo, que têm muito que contar sobre as gentes que o frequentavam

Como seria de prever, foi na Covilhã que se fez sentir o maior entusiasmo e movimento, mas Castelo Branco não pode ser ignorada
Também Tortosendo foi centro de forte concorrência à Covilhã, e acontece até que aquele que ostenta data de fundação mais antiga é o Idanhense, embora aqui porque a colectividade que viria a albergar o futebol, quando este aparece nos distritais, tivesse muito antigas origens. Mas de futebol só se ocupou nos anos 70, e depois da vila ter conhecido um clube que aqui surgiu para o jogar.

Falemos dos clubes então surgidos, e também dos campos que os albergaram.

A primeira vez que por aqui se fala de desporto é em 1914. O jornal Notícias da Beira que se publica na capital de distrito, diz-nos a 25 de Janeiro que a Sociedade Desportiva Albicastrense se extingue. Apresenta até as contas da solvência, mas não diz que desporto a colectividade praticava.

Só em 1923 (21 Janeiro) se fala objectivamente de futebol, citando o clube então existente, o Grémio Desportivo União, que o jornal refere ir jogar a 28 com o Grupo Desportivo do Pessoal de Escritórios da CP/Lisboa.

Um nome de prestígio nas competições de Castelo Branco, também é citado nestes anos 20, embora não esteja relacionado com o futebol, que só chegaria à colectividade nos meados dos anos 70, e para dar continuidade ao futebol na vila, que tinha visto o clube a ele dedicado fechar as portas. Fala-se do Clube União Idanhense, que a propósito do 1º de Maio, organiza na sua sede um baile para as classes trabalhadoras. Estamos em 1923.
Também em Castelo Branco o futebol está muito activo, com o Grémio a convidar o Montes Hermínios Sport Clube, da Covilhã, para um jogo de fim de época.
Mas não é só este clube que tem actividade. O Grupo Sportivo Académico Albicastrense desafiou o Estrela Foot-Ball Club para um jogo, que este vence por 3 a 1. O recinto de jogo, era de larga utilização. Era o campo de Montalvão, apresentado como vasto e adequado a grandes multidões.
Já então o Sport Lisboa e Castelo Branco fazia parte dos clubes da cidade, e o jornal Notícias da Beira (Fevereiro 1925) fala de um jogo em Tortosendo, que desperta muita curiosidade, e que fará opor a este Sport Lisboa o Tortosendo Sport Clube, que não é mais que o Sport Lisboa.

Mas não era só com os clubes locais que o Montalvão se movimentava. Em 15 de Março (1925), o Grémio convida o Sport Lisboa e Glória, os veteranos do Benfica, que foram ao Montalvão ganhar por 15-0.
Passado o verão, logo 3 entusiastas da cidade ofereceram uma taça para ser disputada pelos clubes da terra, em 6 jornadas, de que o jornal não dá total conta. Mas dá para saber que foi o Sport Lisboa que a venceu, ao ganhar o último jogo ao Grémio por 2 a1, depois de já ter vencido a União Desportiva Albicastrense.
Em Maio de 1926 o Grémio foi a Tortosendo jogar com o Sport Lisboa e Tortosendo, e o jornal não fala do resultado, mas diz da compostura e rectidão dos jogadores locais, mas que infelizmente não foram secundados por parte da assistência. Dos recintos de jogo é que não se fala.

Entretanto na Covilhã, que em 1923 viu surgir um novo clube, o Sporting Clube da Covilhã, também há futebol. A convite do Montes Hermínios que seria derrotado por 8-0, deslocou-se à cidade uma equipa de Lisboa, o Atlético Clube de Lisboa, que posteriormente derrota os neófitos no futebol por 15-0.
Supõe-se que então se jogava no campo do Calvário, terreiro adequado e então existente, provavelmente nas vizinhanças da capela do mesmo nome.
Mas logo o Covilhã inaugura um “verdadeiro” campo de futebol. É em 22 de Julho de 1923, com um jogo com o Montes Hermínios. O campo da Várzea, local hoje intensamente urbanizado, mas que então ficava longe da cidade, como se depreende da crónica do Notícias da Covilhã em 24 de Fevereiro de 1924, que a propósito de um jogo do Covilhã com o Vitória Luso Sporting diz que o jogo se caracterizou pelos insultos constantes entre jogadores, muita agressividade, e que por certo afastará quem os veja e mantenha, porque o público não se “sujeitará à longa caminhada até à Várzea”.
Mais tarde, e no jornal O Raio da mesma data (pg 3), o jornalista João Oliveira, diz:

“nunca viemos tão mal impressionados lá de baixo, das Várzea. Descemos os íngremes caminhos que conduzem ao campo, na esperança de ver o sacrifício compensado…”

Por aqui, hoje, o Grupo Desportivo da Estação tem o seu recinto de jogo.

Talvez por este facto, ou quiçá por qualquer outra razão, o Covilhã abalança-se à construção de um novo recinto. O concurso para as terraplanagens está publicado no jornal que vimos citando em 2 de Agosto de 1925. É o campo da Palmatória a nascer, ali num qualquer espaço que ladeava a estrada do mesmo nome.

Mas por outros lados do distrito também se faziam campos. É o caso do Fundão, que em Março de 1925 (NC 22 Março) noticia a inauguração do campo de jogos do Grupo Desportivo Fundanense, que convida para a festa o Montes Hermínios e o Grémio União

Nos finais de 24, surge na Covilhã um novo clube. É o Atlético Clube Covilhanense, que absorve a quase totalidade do Vitória Luso Sporting, que se deve ter dissolvido. É isso que se deduz do que diz (11 Janeiro 1925) o Notícias da Beira, conjugado com o anúncio do aparecimento do novo clube que publica o Notícias da Covilhã

Em Maio de 1924, o Vitória Luso toma a iniciativa de convocar os clubes da cidade, para tentar organizar-se um campeonato na Covilhã, e sensibilizar a câmara para construir um campo de futebol, nos apontados terrenos do Bairro Social. (O Raio 18 Maio)
Surgia o GD da Escola Industrial, que vai jogar o primeiro jogo em Caria. Vencerá por 3 a 1.

O Raio (9 NOV 1924) noticia a inauguração do campo do Tortosendo, e diz que este fica à saída da povoação, na estrada para Ponte Pedrinha. Apadrinham o acto o Vitória e o Montes Hermínios.
O jornal refere ainda que outro campo vai ser inaugurado. Trata-se do campo do Montalvão, do SL e Castelo Branco, que convidou para tal o Vitória Luso.

Cita-se (1924) um novo clube da Covilhã, o Lusitano Sport Clube, que foi a Tortosendo jogar com o Tortosendo SC.

O Raio (22 MAR 1925) fala da intenção do Covilhã em criar um campo de jogos na Palmatória, e relata que o Montes Hermínios vai ao Fundão inaugurar um campo de futebol, jogando com o Grémio União de Castelo Branco.

O SL E Tortosendo recebe o SL e Glória (Março 1925).
Em Alpedrinha inaugura-se um campo de futebol perto da estação da CP, do clube local o “Cintra da Beira”, jogando o Sporting da Covilhã com o Grémio União. (O Raio 10 MAI 1925)

Nesta altura (1925), os jornais começam a falar do campo de futebol na cidade da Covilhã, e sugere-se á Câmara que use os terrenos do Bairro Social. Que ficavam junto à estrada dr. Júlio Maria da Costa, onde hoje estão os Bombeiros. De forma improvisada, sem condições para jogadores e público, foi aqui que se fez um campo de futebol. O campo do Bairro Social, que veio suprir os anteriores, já então desaparecidos, como deixa supor as sucessivas notícias sobre futebol.  Foi aqui que em Junho de 1930 se jogou um desafio do Covilhã com uma equipa das Oficinas do Barreiro, da CP, e que integrava vários jogadores internacionais, e de diferentes equipas filiadas. Estes venceram por 9 a 1.

O Sport Comércio & União é criado em 1931. Regressa ao activo o Montes Hermínios

Em 1930 (1 JUN) ainda se fala neste projecto, comentando o jornal que o terreno dos Bairros é melhor do que o que fica atrás do hospital (mas seria este o escolhido anos mais tarde, pois foi aqui que nasceu o Campo de Jogos da Cidade – mais tarde campo Santos Pinto). Em 1933, o mesmo jornal dá conta de que as obras da sua construção pararam, dado o esgotamento das verbas atribuídas, que tiveram o intuito de suprir a crise de trabalho existente, mas a sua exiguidade teve como consequência que o campo ficasse a meio

O campo do Fundão, conforme o relata o jornal A Verdade em 25 de Maio de 1924
Delimitado o campo para jogos desportivos, os rapazes empenham-se em fazer a devida terraplanagem.
A comissão que trata destes assuntos, acha-se muito penhorada com o senhor Elias Cravo, que os tem auxiliado bastante com a terraplanagem, e pede ao jornal que lhe faça o agradecimento público.
Posteriormente (15 FEV 1925), o jornal dá conta da inauguração do campo, que será a 22 de Março de 1925, jogando o Montes Hermínios com o Grémio União.

Entretanto também a Soalheira tem um campo de jogo, e ali, neste Maio de 1924, vão jogar os Montes Hermínios com uma selecção de castelo Branco, a favor da Misericórdia local.

Os clube s da cidade então activos eram:

Sporting Clube da Covilhã
Internacional FC
Sport Comércio & Indústria
Grupo Desportivo Militar.

Em 1927 em Castelo Branco são 2 os clubes activos: Sport Lisboa e Grémio União. O campo é o de Montalvão.

29 NOV 1931, O Raio
Em Aldeia do Carvalho inaugura-se a sede do Carvalhense FC

Em Janeiro de 1932 o Montes Hermínios inaugura nova sede. Fica no largo João de Deus.

Campo Santos Pinto

O actual estádio Santos Pinto, e que originalmente (1930), se designava por campo de Jogos da Covilhã, foi feito no Alto do Hospital, leva este nome como homenagem a um dos maiores entusiastas do futebol na Covilhã, e no seu Sporting em particular.
Foi a verdadeira antecâmara do futebol na cidade e distrito, e na sua construção também esteve um impulso social, como o comprova a notícia inserta no Diário de Notícias em Outubro de 1933, que dizia:

A crise de trabalho na Covilhã


Para a atenuar, iniciaram-se os trabalhos de construção de um campo de jogos.

Covilhã 23 – O Governo, atendendo à crise de trabalho na Covilhã, está tomando as necessárias providências.
Com a verba de 20 contos, destinada pelo Comissariado do Desemprego, às primeiras medidas de auxílio à classe dos trabalhadores, foi iniciada a terraplanagem para o Campo de Jogos, no sítio acima do Hospital da Misericórdia, justamente no sítio da floresta.
Ontem, trabalhou já o primeiro turno de desempregados, sendo ocupados 60 operários da indústria têxtil e construção civil. Apresentaram-se cerca de 200 homens, mas por insuficiência de ferramentas, só foi atribuído aquele número…


Campos

Covilhã

Campo do Calvário
Campo da Várzea
Campo da Palmatória
Campo do Bairro municipal
Campo das Festas
Campo Santos Pinto

Castelo Branco
Montalvão

Tortosendo
Campo do Cabeço
Campo da Pousada

Fundão
Campo do Fundão

Clubes

Na Covilhã

Vitória Luso Sporting
Atlético Clube Covilhanense
Estrela Foot-Ball Club
Montes Hermínios Sport Club
Sporting Clube da Covilhã
Grupo Desportivo da Escola Industrial
Internacional Foot Ball Club
Sport Comércio & Indústria
Grupo Desportivo Militar
Lusitano Sport Clube

Castelo Branco

Operário Albicastrense
Sport Lisboa e Castelo Branco
Grémio Desportivo União
Grupo Sportivo Académico Albicastrense

Outros

Sport Lisboa e Tortosendo
Grupo Desportivo Fundanense (Fundão)























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