O relato, em
jeito de memórias, que o jornal A Voz da Serra publica em Novembro de 1954, dá
bem uma ideia como o futebol se jogou por aqui.
Entretanto o
jornal, começado a publicar-se em 1919, é um claro memorial do futebol na vila,
antes do aparecimento do FC de Seia, o que ocorreria em 1933.
Pela leitura
das suas edições, ficamos a saber que o Herminius Sport Club, era o embaixador
da vila, com constantes jogos em casa, que era o campo José Rodrigues Ferreira em Santa Comba , que
haveria de voltar à sua vocação agrícola, quando mais tarde serviu de plantio a
uma vinha. Era nesta terra que ficavam os domínios do Grupo de Foot-Ball Os
Lusos.
Por vezes o campo
da Avelhariça, na vila (que serviu mais tarde à implantação do Hospital), e que
seria um terreiro mais ou menos amplo, era onde os Herminius “recebiam”. A
fazer companhia a este dinâmico grupo, ainda se notava a presença esporádica do
Ceia Sport Club, e do Seia Desportivo, embora este mais virado para o
atletismo. Como se vê, era intenso o futebol por aqui. Mas o final dos anos
vinte trouxe o desaparecimento de todo o futebol. Pelo menos no jornal.
Eis que surge,
então, o FC de Seia. O seu aparecimento data de Setembro de 1933 (1).
Posteriormente, dá conta o jornal, que a sua sede social ficaria no edifício da
Associação de Socorros Mútuos Cenense (2). Este edifício que entretanto daria
lugar ao cinema, viria a ser demolido em 1979.
Contudo as
aparições deste clube começam a rarear, e de 1940 até 1945, fica mesmo
inactivo. Ressurgirá depois, promovendo a legalização dos Estatutos, entretanto
aprovados pelo Governo Civil (Voz Serra 15 Março 1947).
Começa a falar-se
num campo. Seria o de Crestelo, cuja localização prevista, implicava com o
traçado da também prevista estrada da vila para S. Romão. Por causa disso, foi
o presidente da câmara a Coimbra, para acertar agulhas com a Junta das Estradas
(3).
Após muitas “demarches”,
várias campanhas apoiadas pelo jornal que vimos citando, faz o clube a sua estreia
no futebol federado, em 22 de Novembro de 1953 (4).
No ano
anterior havia feito diversos jogos (5), um pouco por todo o lado, incluindo no
seu campo de Crestelo, que teve de adaptar rapidamente às exigências da AF da
Guarda, que não os deixava participar se o campo não tivesse vedação do recinto
de jogo.
O clube enceta
então uma campanha de angariação de fundos designada “Pró-Pilar” (6), estimando
em 160, as unidades necessárias, mas que o acompanhou até ao fechar de portas
em 1962.
O seu campo
foi então demolido (7), e o clube despejado das instalações que lhe serviam de
sede administrativa, que foram retiradas e entregues a uma Banda Musical,
acabando aí o clube, que durante a sua curta vida viveu muitos sobressaltos que
o afastaram da competição, que diga-se também não contava com muitos participantes,
ocasionando mesmo (8) uma presença do Seia nos nacionais, sem ter competido
distritalmente!
Em 1962 o
concelho só tem uma equipa a competir. É o Travancinha.
Surge
entretanto um novo clube em Seia, mas dedicado ao hóquei em patins. É o Clube Hóquei
de Seia (1 Dezembro 1961), que almeja por um ringue, mas que irá demorar vários
anos em projecto. Por
isso que o clube acabe por se dedicar ao futebol, na vertente Formação.
Concorre ao campeonato de 1965/66, jogando contudo em S. Romão , pois a vila não
dispunha então de qualquer campo. Na época seguinte não participa pelo facto do
campo então em construção, estar muito limitado, e a associação distrital não o
homologar.
Em 1967/68,
dispondo já do campo municipal, no Bairro da Nª Sª do Rosário (que viria
posteriormente a servir à implantação do pavilhão municipal), já volta à
competição de formação, apresentando uma equipa de juniores e outra de juvenis.
Entretanto o
clube muda de nome, e passa a designar-se por União Desportiva de Seia (9).
Continua a participar no futebol de formação, para além do hóquei em patins.
Em 1977 chega,
finalmente, ao futebol sénior. Só o deixaria em 2006.
Em 1979 a autarquia enceta
diligencias para a construção do parque desportivo, e envia a Lisboa uma
delegação para negociar com a proprietária dos terrenos (10).
Mas logo em
Março a sua construção, na Quinta da Nogueira, era já um facto (11), embora de
forma lenta, como o confirma o jornal Porta da Estrela em Janeiro de 1981, ao
dar conta do estado dos trabalhos.
Mas quando a
União chega ao futebol nacional, já era este o palco do futebol em Seia. Até hoje.
(1) – ver A Voz da
Serra 24 Setembro 1933, pg 2
(2) – ver A
Voz da Serra 9 Fevereiro 1934
(3) – ver A
Voz da Serra 5 Abril 1947, pg 4
(4) – ver A
Voz da Serra, 19 Setembro 1953, pg 2
(5) – ver A
Voz da Serra, Junho de 1952
(6) – ver Voz
da Serra de 24 Outubro 1953, pg 2
(7) – ver Voz
da Serra, 10 Novembro 1962, pg1/2
(8)- os 2
clubes de Gouveia desistem em 1954/55, dadas as condições do campo do Farvão, e
o Seia FC torna-se campeão sem jogar.
(9)
- ver Voz da Serra 25 Dezembro 1971, pg 5
(10)
– ver Porta da Estrela 15 Fevereiro 1979
(11)
– ver Porta da Estrela 15 Março 1979, pg 7
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