Futebol Saudade

Desde que, há mais de 100 anos, se fez o primeiro campeonato de futebol em Portugal, que a "passerelle", que é a vida desportiva, viu desfilar milhares de clubes.
Uns ainda hoje existem, pujantes e vigorosos até, outros, embora perdendo protagonismo, ainda resistem. Mas muitos ficaram pelo caminho.
Passaram ao futsal, deixaram o desporto, ou fecharam mesmo as portas. É dos que partiram (e não só), que aqui vamos tentar deixar a memória.




terça-feira, 3 de maio de 2016

Futebol em Seia


O relato, em jeito de memórias, que o jornal A Voz da Serra publica em Novembro de 1954, dá bem uma ideia como o futebol se jogou por aqui.
Entretanto o jornal, começado a publicar-se em 1919, é um claro memorial do futebol na vila, antes do aparecimento do FC de Seia, o que ocorreria  em 1933.



Pela leitura das suas edições, ficamos a saber que o Herminius Sport Club, era o embaixador da vila, com constantes jogos em casa, que era o campo José Rodrigues Ferreira em Santa Comba, que haveria de voltar à sua vocação agrícola, quando mais tarde serviu de plantio a uma vinha. Era nesta terra que ficavam os domínios do Grupo de Foot-Ball Os Lusos.

Por vezes o campo da Avelhariça, na vila (que serviu mais tarde à implantação do Hospital), e que seria um terreiro mais ou menos amplo, era onde os Herminius “recebiam”. A fazer companhia a este dinâmico grupo, ainda se notava a presença esporádica do Ceia Sport Club, e do Seia Desportivo, embora este mais virado para o atletismo. Como se vê, era intenso o futebol por aqui. Mas o final dos anos vinte trouxe o desaparecimento de todo o futebol. Pelo menos no jornal.
Eis que surge, então, o FC de Seia. O seu aparecimento data de Setembro de 1933 (1). Posteriormente, dá conta o jornal, que a sua sede social ficaria no edifício da Associação de Socorros Mútuos Cenense (2). Este edifício que entretanto daria lugar ao cinema, viria a ser demolido em 1979.
Contudo as aparições deste clube começam a rarear, e de 1940 até 1945, fica mesmo inactivo. Ressurgirá depois, promovendo a legalização dos Estatutos, entretanto aprovados pelo Governo Civil (Voz Serra 15 Março 1947).



Começa a falar-se num campo. Seria o de Crestelo, cuja localização prevista, implicava com o traçado da também prevista estrada da vila para S. Romão. Por causa disso, foi o presidente da câmara a Coimbra, para acertar agulhas com a Junta das Estradas (3).


Após muitas “demarches”, várias campanhas apoiadas pelo jornal que vimos citando, faz o clube a sua estreia no futebol federado, em 22 de Novembro de 1953 (4).
No ano anterior havia feito diversos jogos (5), um pouco por todo o lado, incluindo no seu campo de Crestelo, que teve de adaptar rapidamente às exigências da AF da Guarda, que não os deixava participar se o campo não tivesse vedação do recinto de jogo.
O clube enceta então uma campanha de angariação de fundos designada “Pró-Pilar” (6), estimando em 160, as unidades necessárias, mas que o acompanhou até ao fechar de portas em 1962.


O seu campo foi então demolido (7), e o clube despejado das instalações que lhe serviam de sede administrativa, que foram retiradas e entregues a uma Banda Musical, acabando aí o clube, que durante a sua curta vida viveu muitos sobressaltos que o afastaram da competição, que diga-se também não contava com muitos participantes, ocasionando mesmo (8) uma presença do Seia nos nacionais, sem ter competido distritalmente!



Em 1962 o concelho só tem uma equipa a competir. É o Travancinha.
Surge entretanto um novo clube em Seia, mas dedicado ao hóquei em patins. É o Clube Hóquei de Seia (1 Dezembro 1961), que almeja por um ringue, mas que irá demorar vários anos em projecto. Por isso que o clube acabe por se dedicar ao futebol, na vertente Formação. Concorre ao campeonato de 1965/66, jogando contudo em S. Romão, pois a vila não dispunha então de qualquer campo. Na época seguinte não participa pelo facto do campo então em construção, estar muito limitado, e a associação distrital não o homologar.
Em 1967/68, dispondo já do campo municipal, no Bairro da Nª Sª do Rosário (que viria posteriormente a servir à implantação do pavilhão municipal), já volta à competição de formação, apresentando uma equipa de juniores e outra de juvenis.
Entretanto o clube muda de nome, e passa a designar-se por União Desportiva de Seia (9). Continua a participar no futebol de formação, para além do hóquei em patins.
Em 1977 chega, finalmente, ao futebol sénior. Só o deixaria em 2006.

Em 1979 a autarquia enceta diligencias para a construção do parque desportivo, e envia a Lisboa uma delegação para negociar com a proprietária dos terrenos (10).
Mas logo em Março a sua construção, na Quinta da Nogueira, era já um facto (11), embora de forma lenta, como o confirma o jornal Porta da Estrela em Janeiro de 1981, ao dar conta do estado dos trabalhos.
Mas quando a União chega ao futebol nacional, já era este o palco do futebol em Seia. Até hoje.


(1) – ver A Voz da Serra 24 Setembro 1933, pg 2
(2) – ver A Voz da Serra 9 Fevereiro 1934
(3) – ver A Voz da Serra 5 Abril 1947, pg 4
(4) – ver A Voz da Serra, 19 Setembro 1953, pg 2
(5) – ver A Voz da Serra, Junho de 1952
(6) – ver Voz da Serra de 24 Outubro 1953, pg 2
(7) – ver Voz da Serra, 10 Novembro 1962, pg1/2
(8)- os 2 clubes de Gouveia desistem em 1954/55, dadas as condições do campo do Farvão, e o Seia    FC torna-se campeão sem jogar.
(9) - ver Voz da Serra 25 Dezembro 1971, pg 5
(10) – ver Porta da Estrela 15 Fevereiro 1979
(11) – ver Porta da Estrela 15 Março 1979, pg 7





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