Futebol Saudade

Desde que, há mais de 100 anos, se fez o primeiro campeonato de futebol em Portugal, que a "passerelle", que é a vida desportiva, viu desfilar milhares de clubes.
Uns ainda hoje existem, pujantes e vigorosos até, outros, embora perdendo protagonismo, ainda resistem. Mas muitos ficaram pelo caminho.
Passaram ao futsal, deixaram o desporto, ou fecharam mesmo as portas. É dos que partiram (e não só), que aqui vamos tentar deixar a memória.




sábado, 3 de dezembro de 2016

Coimbra – estórias do futebol


Futebol em Coimbra ainda há. Mas futebol de Coimbra é que acabou. Há muito.
Até entendo que a época 1937/38 foi o princípio do fim. Mas eu conto como foi.



A direcção da Associação tinha decidido, no ano anterior, reformular as competições distritais.
Começou logo por extinguir a delegação da Figueira da Foz, que até então dirigia autonomamente o futebol nesta cidade. Tal decisão suscitou muitos protestos, e o conflito agudizou-se, provocando o abandono do futebol por muitas equipas daqui. Foi tão extremado o conflito, que até motivou um comunicado oficial da AF, que pode ser lido no Diário de Coimbra (1 de Outubro de 1937).

 Na divisão de Honra, eram 6 os participantes, e a Académica ganhou os jogos todos. 10 vitórias, que construiu com 85 golos. Só sofreu 5. E o último, foi jogado a uma segunda-feira, logo depois de ter jogado na Figueira, vencendo por 8 a 1 a Naval.
O motivo de tão apressada conclusão, dum campeonato há muito ganho, era a prevista e concretizada deslocação à Madeira.
Foi um plantel incompleto que fez a viagem, já que um dos seus integrantes não obteve autorização da entidade patronal, e ficou em terra. Outro foi o célebre dr. Isabelinha (Duarte Gonçalves), que dias depois era alvo de uma homenagem de despedida, pois ia encetar a sua carreira profissional de médico, em Lisboa. A Académica era realmente uma escola.



Voltando ao futebol, e nesta divisão, verificou-se um empate pontual entre o Sport e a União, e o regulamento indicava um jogo em campo neutro. Foi assim que Santa Cruz os recebeu, para ver o Sport classificar-se em terceiro lugar, pois ganhou por 4 a 2.

Mas o futebol tinha, então, muito mais peripécias.
A primeira divisão, que só tinha 2 clubes (!), foi ganha pelo Os Conimbricenses. Mais propriamente Club de Foot-Ball Os Conimbricenses. Mas estes eram vermelhos. Vermelhos e brancos, em riscas verticais. O calção era preto.
Pois estes foram discutir, em 2 jogos com o Santa Clara, um lugar na categoria de Honra. Os de Santa Clara ganharam (3-2), e os derrotados protestaram o jogo. De tal modo, que o segundo jogo nunca mais teve lugar. Pelo menos 3 meses após este jogo nada tinha acontecido. E depois também nada noticiaram os jornais da cidade.



Entretanto surgia um clube novo, o Febres Sport Clube, que se inscreve na Promoção, onde tem a companhia do Sporting de Coimbra, a quem vence por 2 vezes, e se torna campeão, com direito a discutir a ascensão ao patamar seguinte.
Foi o Olivais o adversário, pois embora tivesse sido o segundo na 1ª divisão, logo vice-campeão, também foi o último! Era ou não divertido o futebol aqui?
Sem dúvida. Aliás o futebol em Coimbra foi sempre entretido, desde os tempos do “campo” da Ínsua dos Bentos, passando pelas peripécias para convencer o reitor para a construção de Santa Cruz, numa cidade com outros míticos campos da cidade, que ou foram atrofiados ou mesmo riscados do mapa. Falo, claro da Arregaça e do Arnado.



Mas voltando ainda ao Febres – Olivais. Foram precisas 9 horas para decidir quem jogaria na 1ª divisão, na época seguinte.
O primeiro jogo, em Abril e em Febres foi ganho pelos da casa. Mas em Coimbra o Olivais desforrou-se, e o jogo de desempate joga-se na Figueira da Foz, no campo da Mata, e mesmo com prolongamento, o empate manteve-se. Repetiu-se o jogo e os resultados 8 dias após, pelo que logo ficou marcado um terceiro jogo, de desempate, no mesmo sítio, no domingo a seguir.
Foram precisos quase trinta dias, 5 jogos, 540 minutos, e 7 golos para cada um, para se definir quem estaria na 1ª divisão. Acabariam por ser os 2 na época seguinte.
Ah! Falta dizer o resultado final do último jogo. Claro que após prolongamento, como vinha sendo costume. Ganhou o Febres por 4 a 1, mas o Olivais só tinha 7 jogadores no fim do jogo.

Ora digam lá se não mataram o futebol, depois disto. Onde, épocas tão animadas, cheias de entusiasmo, e histórias para contar?



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