Futebol em Coimbra ainda
há. Mas futebol de Coimbra é que acabou. Há muito.
Até entendo que a época
1937/38 foi o princípio do fim. Mas eu conto como foi.
A direcção da Associação
tinha decidido, no ano anterior, reformular as competições distritais.
Começou logo por extinguir
a delegação da Figueira da Foz, que até então dirigia autonomamente o futebol
nesta cidade. Tal decisão suscitou muitos protestos, e o conflito agudizou-se,
provocando o abandono do futebol por muitas equipas daqui. Foi tão extremado o conflito,
que até motivou um comunicado oficial da AF, que pode ser lido no Diário de
Coimbra (1 de Outubro de 1937).
Na divisão de Honra, eram 6 os participantes,
e a Académica ganhou os jogos todos. 10 vitórias, que construiu com 85 golos.
Só sofreu 5. E o último, foi jogado a uma segunda-feira, logo depois de ter
jogado na Figueira, vencendo por 8
a 1 a
Naval.
O motivo de tão apressada
conclusão, dum campeonato há muito ganho, era a prevista e concretizada
deslocação à Madeira.
Foi um plantel incompleto
que fez a viagem, já que um dos seus integrantes não obteve autorização da
entidade patronal, e ficou em
terra. Outro foi o célebre dr. Isabelinha (Duarte Gonçalves),
que dias depois era alvo de uma homenagem de despedida, pois ia encetar a sua
carreira profissional de médico, em Lisboa. A Académica
era realmente uma escola.
Voltando ao futebol, e
nesta divisão, verificou-se um empate pontual entre o Sport e a União, e o
regulamento indicava um jogo em campo neutro. Foi assim que Santa Cruz os
recebeu, para ver o Sport classificar-se em terceiro lugar, pois ganhou por 4 a 2.
Mas o futebol tinha,
então, muito mais peripécias.
A primeira divisão, que
só tinha 2 clubes (!), foi ganha pelo Os Conimbricenses. Mais propriamente Club
de Foot-Ball Os Conimbricenses. Mas estes eram vermelhos. Vermelhos e brancos,
em riscas verticais. O calção era preto.
Pois estes foram
discutir, em 2 jogos com o Santa Clara, um lugar na categoria de Honra. Os de
Santa Clara ganharam (3-2), e os derrotados protestaram o jogo. De tal modo,
que o segundo jogo nunca mais teve lugar. Pelo menos 3 meses após este jogo
nada tinha acontecido. E depois também nada noticiaram os jornais da cidade.
Entretanto surgia um
clube novo, o Febres Sport Clube, que se inscreve na Promoção, onde tem a
companhia do Sporting de Coimbra, a quem vence por 2 vezes, e se torna campeão,
com direito a discutir a ascensão ao patamar seguinte.
Foi o Olivais o
adversário, pois embora tivesse sido o segundo na 1ª divisão, logo
vice-campeão, também foi o último! Era ou não divertido o futebol aqui?
Sem dúvida. Aliás o
futebol em Coimbra foi sempre entretido, desde os tempos do “campo” da Ínsua
dos Bentos, passando pelas peripécias para convencer o reitor para a construção
de Santa Cruz, numa cidade com outros míticos campos da cidade, que ou foram
atrofiados ou mesmo riscados do mapa. Falo, claro da Arregaça e do Arnado.
Mas voltando ainda ao
Febres – Olivais. Foram precisas 9 horas para decidir quem jogaria na 1ª
divisão, na época seguinte.
O primeiro jogo, em Abril
e em Febres foi ganho pelos da casa. Mas em Coimbra o Olivais desforrou-se, e o
jogo de desempate joga-se na Figueira da Foz, no campo da Mata, e mesmo com
prolongamento, o empate manteve-se. Repetiu-se o jogo e os resultados 8 dias
após, pelo que logo ficou marcado um terceiro jogo, de desempate, no mesmo
sítio, no domingo a seguir.
Foram precisos quase
trinta dias, 5 jogos, 540 minutos, e 7 golos para cada um, para se definir quem
estaria na 1ª divisão. Acabariam por ser os 2 na época seguinte.
Ah! Falta dizer o
resultado final do último jogo. Claro que após prolongamento, como vinha sendo
costume. Ganhou o Febres por 4 a
1, mas o Olivais só tinha 7 jogadores no fim do jogo.
Ora digam lá se não
mataram o futebol, depois disto. Onde, épocas tão animadas, cheias de
entusiasmo, e histórias para contar?
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