Futebol Saudade

Desde que, há mais de 100 anos, se fez o primeiro campeonato de futebol em Portugal, que a "passerelle", que é a vida desportiva, viu desfilar milhares de clubes.
Uns ainda hoje existem, pujantes e vigorosos até, outros, embora perdendo protagonismo, ainda resistem. Mas muitos ficaram pelo caminho.
Passaram ao futsal, deixaram o desporto, ou fecharam mesmo as portas. É dos que partiram (e não só), que aqui vamos tentar deixar a memória.




quarta-feira, 3 de julho de 2019

Estádio do Lima. Do Lima porquê?



Tudo na vida tem uma explicação, e o nome deste recinto cheio de história, também tem muito a ver com a normal transformação da cidade.
E com que riqueza de pormenores nos deparamos.

Falemos então dos pormenores, que tem a ver com toda a história deste campo.
A rua de Costa Cabral foi aberta em 1845, na sequência duma modernização da estrada de Guimarães, que nessa altura era servida pela rua do Lindo Vale. Era uma zona erma, o que até levou a câmara a recusar-se a gastos nessa artéria, dizendo-a além das barreiras.
Dando continuidade às novas perspectivas, frente ao que é hoje a rua de Álvaro Castelões, construiu-se uma fábrica de fiação e tecidos, que posteriormente se converteu numa fábrica de tabaco. Chamou-se Lealdade, talvez adoptando o nome da rua em frente, Álvaro Castelões, cujo nome inicial era esse.

Entretanto em 1911, alguns estudantes da burguesia local, criaram um clube, a que deram, obviamente, o nome de Académico. Apesar do seu extracto social, o seu “campo” de jogos ficava junto ao Conde Ferreira. Era um logradouro amplo, “multiusos”, já que servia de feira de levante. O local até era conhecido por Cruz das Regateiras.

Mas em 1913, um prosélito do clube, dispensa um terreno em Ramalde, que o clube transforma no seu campo. O terreno era aquele que serviu durante muitos anos ao Ramaldense, que há poucos anos foi dali despejado pelos herdeiros do dono.


Mas em 1923 o Académico aluga um terreno nas traseiras da fábrica, que eram à altura da Misericórdia. Começava a nascer o “Lima”, que em sucessivas melhorias se tornou o estádio sucessor do Amial.
Em meados dos anos 30 ganhou um relvado, iniciativa da Federação, para permitir jogos da Selecção Nacional.

Voltemos agora à fábrica do tabaco. A sua laboração, feita só por homens, teve início por volta dos anos 80 do século XIX.


Os terrenos da fábrica, o palacete anexo que é hoje a sede do Académico, e os terrenos onde se implantou o campo de futebol, eram de um brasileiro torna-viagem, João António Lima, que falece em 1891. A sua viúva, que herda esta parte da fortuna, falece também, em 1917. Deixa estas propriedades à Santa Casa de Misericórdia do Porto.

Está explicado porque o campo é o do “Lima”. E também fica claro porque é que a Misericórdia fecha o estádio em 1973.

A memória deste périplo do futebol na cidade, fica rematado se dissermos que o João Lima, há muitos anos que espreita a cidade, do alto do Hospital da Lapa, onde encima a entrada, no hospital que a sua viúva mandou construir para o homenagear.


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