Futebol Saudade

Desde que, há mais de 100 anos, se fez o primeiro campeonato de futebol em Portugal, que a "passerelle", que é a vida desportiva, viu desfilar milhares de clubes.
Uns ainda hoje existem, pujantes e vigorosos até, outros, embora perdendo protagonismo, ainda resistem. Mas muitos ficaram pelo caminho.
Passaram ao futsal, deixaram o desporto, ou fecharam mesmo as portas. É dos que partiram (e não só), que aqui vamos tentar deixar a memória.




segunda-feira, 3 de maio de 2021

Barreiro - uma fábrica


campos do Barreiro.


O Barreiro saiu da sua bonomia com a chegada dos comboios. Estes trouxeram fábricas. Primeiro as da cortiça, e logo depois a CUF. Estávamos em 1907, quando Alfredo da Silva aqui se instalou.

E é na consequência desta industrialização que largas moles de gente aqui se instalaram. E também por isso o futebol chega mais depressa ao Barreiro.
Tal acontece pela mão de um casapiano, que logo em 1901 cria aqui o primeiro clube :
Sport Clube Barreirense.
Posteriormente, lá para o fim da década, surge entre os operários dos caminhos-de-ferro o Sport Recreativo Operário Barreirense, que é o berço (11 Abril 1911), do Futebol Clube Barreirense dos nossos dias.
Seria ainda uma cisão neste, que o Barreiro teria um novo clube, que ainda hoje está activo. Luso Futebol Clube de seu nome.

Entretanto, ao longo da história do futebol no Barreiro, muitos foram os clubes participantes, embora nem todos tenham sobrevivido à fase inicial, frenética e desorganizada, que se viveu até à chegada do futebol oficial, que se instala em 1926, mercê da criação do distrito de Setúbal, e também da associação de futebol do novo distrito.

Mas os muitos clubes do Barreiro, impossibilitados até aí de se inscreverem em Lisboa, passam agora a ter como entrave, os elevados custos de competir na nova AF, com os jogos todos a terem de se realizar na cidade setubalense. Enveredam então por criar uma liga concelhia: a Liga de Foot-Ball do Barreiro, que é reconhecida e apoiada pela AF lisboeta!

Outro entrave condicionador da sua existência, é a falta de campos.
Os então existentes na vila, eram 2. O campo do Rocio, que anos mais tarde chega a D. Manuel de Melo, que fecha portas e é demolido em 2007, quando já era estádio, mudando-se o Barreirense para o seu campo de Verderena. Outro campo de então era o campo da Quinta Pequena, desse histórico baluarte barreirense, que é o Luso, e que ainda conserva esta jóia.

Em 1937 surgia no Lavradio um novo campo. Era o da CUF, designado por Santa Bárbara, em alusão ao lugar onde se implanta. Hoje, à excepção da Quinta Pequena, só existem nas memórias dos mais velhos.

Vamos então falar dos campos do Barreiro, que ao longo dos tempos foram uma grande centro de formação, donde saíram atletas de todas as matizes, e das mais variadas apetências.


Barreiro – campos de todos os tempos
CAMPO
CLUBE
DE
A
COORDENADAS
NOTAS
Rosário
Barreirense
1911
1912
38-39-44,52 N; 9-5-1,44 W
1
José Alves
Barreirense
1912
1913
38-39-38,27 N; 9-4-38,65 W
2
Rossio
Barreirense
1914
2007
38-39-47,11 N; 9-4-33,26 W
3
Quinta Pequena
Luso
1926
2017
38-39-25,31 N; 9-4-15,9 W
4
Quinta do Morgado
Lavradiense
1935
1942
38-40-9,27 N; 9-2-46,7 W
5
Santa Bárbara
CUF
1937
1965
38-40-0,7 N; 9-4-7,6 W
6
Alfredo da Silva
CUF
1965
2017
38-39-30,85 N; 9-3-12,55 W
7
Palmeiras
Quinas
1968
1972

8
Verderena
Barreirense
1971
2017
38-39-5,9 N; 9-3-57,18 W
9


1 - campo do Rosário

Foi este o primeiro sítio onde o Barreirense jogou futebol. De campo tinha pouco, já que o terreno era arenoso até dizer chega. Ficava nas imediações da igreja de Nª Sª do Rosário, de onde tirou o nome.
Provavelmente os “players” já vinham fardados de casa, e o banho final seria no rio, ali tão perto.
Não durou muito o seu uso, a avaliar pelas notícias.

2 - campo José Alves

Dadas as condicionantes do campo do Rosário, logo o clube procurou local mais adequado, que encontrou na quinta de José Alves, que ficava nas proximidades da actual Parque Catarina Eufémia, a poente, segundo os biógrafos da história da vila.
Mas também aqui as condições não pareciam adequados, dada a exiguidade do espaço para os espectadores. Toca de procurar novo campo

3 - campo do Rossio

Aqui encontrou o Barreirense o paraíso. Ou quase, tantos foram os anos que aqui ficou. Estávamos em 1914.
O terreno era de semeadura, e estava alugado, mas o rendeiro denunciou o contrato, e logo os do Barreirense o tomaram de arrendamento. O cemitério velho ficava na retaguarda do recinto. Ao longo dos anos, o empenho dos seus permitiu ir construindo o campo, que paulatinamente se fez estádio, e propriedade do clube, que o foi comprando aos talhões, até à propriedade total.
Da empresa vizinha, a CUF, teve muitas ajudas também, e por isso, em 1952 em AG aprovou a mudança de nome. Passou a ser o campo D. Manuel de Melo, de profundas tradições e história no futebol português. Mais tarde, e mercê das grandes transformações que foi recebendo, passou a ser designado de estádio.
Em 2007 o clube vendeu-o.

4 - campo da Quinta Pequena

Como já dissemos, o Luso surge de uma ala desavinda do Barreirense, e se bem que também se dedicasse a outras modalidades, tinha no futebol a sua maior apetência. Por isso logo em 1926, a 9 de Maio, inaugura o seu campo.
(ver Eco do Barreiro de 15 Maio 1926)

5 - campo da Quinta do Morgado

A quinta do Morgado ficava no Lavradio, no Alto do Paiva. Quase na extrema da freguesia, e bordejando a estrada do Lavradio, na vizinhança de tantas outras quintas, que por aqui existiam. O campo do Morgado começa a ser citado em 1935, quando o Sporting Lavradiense começa a participar no futebol, que deixa em 1942. Também o campo desaparece dos jornais. Ficaria perto de onde hoje se localiza a igreja de Santa Margarida do Lavradio.

6 - campo de Santa Bárbara

O futebol nesta empresa surge nos anos 30. Inicialmente tem um cariz corporativo, com torneios entre secções fabris da empresa (CUF – Companhia União Fabril), mas logo envereda pelo futebol oficial. Em 1938/39 faz o seu baptismo na 2ª divisão distrital.
A partir daqui as suas prestações levam-na até aos nacionais, e coroando a sua brilhante carreira em provas internacionais da UEFA.
Num breve prazo dos finais dos anos 30, uma bizarra determinação governamental obriga-os a mudar de nome, transformando-se em Unidos. Mas logo retoma o nome original, que só deixa em 1979, quando a sua estrutura sofre profundas alterações, e passa a designar-se de Quimigal. Posteriormente (2000) muda novamente de designação, fazendo-se Fabril, nome que perdura até hoje (2017).
Este campo de Santa Bárbara, criado pela empresa numa vasta faixa de terreno na quinta do Gandum, entre o Alto de Santa Bárbara e o cemitério, surge em 1938, quando é inaugurado no dia 1 de Maio.
Serve ao clube até 1965, sendo entretanto demolido. Parte da sua bancada fica integrada na reformulação do espaço público em que se integrou.

7 - estádio Alfredo da Silva

É na fase mais prestigiosa da sua carreira, que o clube passa a dispor de um excelente estádio, com excelentes condições, numa verdadeira cidade desportiva. A sua inauguração fez-se em 30 de Junho de 1965, e vem até aos dias de hoje.

8 - campo das Palmeiras

O campo das Palmeiras começa a ser citado nos anos 60, e é usado por vários clubes deste lado da vila (Alto do Seixalinho) sendo, entre outros, o recinto que o Quinas Clube de Desportos utiliza, na sua passagem pelo futebol federado, que se dá entre 1968 e 1972.
A partir daqui também deixa de ser citado. A sua localização é um mistério para nós.


9 - campo de Verderena

Nos anos 70, por razões estéticas, de salubridade, e protecção da zona ribeirinha da vila, são feitas intervenções na zona dos moinhos de Verderena, procedendo-se ao aterro das caldeiras daqueles.
Nestes terrenos assim conquistados ao rio, define-se, pelos seus proprietários, a atribuição de largas faixas a colectividades do Barreiro. Bombeiros e Misericórdia, assim como o Barreirense, são os contemplados.
O jornal local “Jornal do Barreiro”, faz em 25 Novembro de 1971, larga reportagem da cerimónia de autorgação destes terrenos.
Na altura, ainda não estava concluído o aterro, o que só acontece 2 anos depois (ver Jornal do Barreiro 20 DEZ 1973, pg 3)

Quando o clube vende o seu estádio, procede à beneficiação destas instalações, que são agora o seu recinto desportivo.

E assim se faz o historial do futebol na hoje cidade do Barreiro.


Fontes

jornais:

      Acção Desportiva (Barreiro)
      Barreirense (O)
      Eco do Barreiro
      Jornal do Barreiro
      Luso Sport (Almada)
      Povo do Barreiro
      Voz do Barreiro

monografias:

      Barreiro Contemporâneo – volume I (de Armando da Silva Pais)

      Barreiro, Antigo e Moderno ( de Armando da Silva Pais)





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