Futebol Saudade

Desde que, há mais de 100 anos, se fez o primeiro campeonato de futebol em Portugal, que a "passerelle", que é a vida desportiva, viu desfilar milhares de clubes.
Uns ainda hoje existem, pujantes e vigorosos até, outros, embora perdendo protagonismo, ainda resistem. Mas muitos ficaram pelo caminho.
Passaram ao futsal, deixaram o desporto, ou fecharam mesmo as portas. É dos que partiram (e não só), que aqui vamos tentar deixar a memória.




terça-feira, 23 de outubro de 2012

Futebol em Évora – o começo




              Da consulta dos jornais da cidade é seguro fazer-se um retrato do futebol no distrito.

              É seguro que o primeiro clube foi o Académico. Surgido no meio escolar, encontrou terreno fértil para a sua divulgação. Logo outros se aprontaram, e “lógico” que fossem os empregados do comércio a dar réplica.

              Este entusiasmo está bem vincado nos frequentes confrontos entre o Sport Vitória Académico, e o Clube Sport Empregados no Comércio, que aqueles quase sempre levaram a melhor.

              O Rocio de S. Braz era então o recinto dedicado ao futebol, e através do jornal “Evolução Desportiva”, que era órgão da Associação dos  Empregados do Comércio, podemos ver que o clube de futebol foi criado em 1912, já que a sua edição de 19 de Julho de 1913 diz:

A Vida do nosso Clube

Foi fundado um clube da nossa classe, o qual com algumas dificuldades tem lutado há um ano, mas também algumas recompensas tem conseguido.
Tem sido sem dúvida depois da fundação do nosso jovem clube, que mais se tem desenvolvido o sport nesta terra, onde, por assim dizer, não havia mais que taberna, casas de jogo, e outras de idêntica natureza.

              Continuando a ler este jornal de que só se publicaram 2 números, ainda é possível saber que em Outubro de 1914 foi criado mais um clube em Évora. Tratava-se então do Clube União Atlético Eborense.

Para além deste jornal aqui citado, e no âmbito do CSEC, outros havia nos domínios da Academia (o liceu). Eram o Alma Académica e o Germinar.

              Mas continuando a viajar pelos jornais da cidade, podemos fazer uma abordagem ao associativismo da altura. Assim, e consultando o Notícias de Évora, detectam-se:

- Grupo Recreativo e Dramático 1º de Dezembro
- Grupo Recreativo 5 de Outubro de 1910
- Academia Dramática e Musical João Pedro Ferreira
- Sociedade Recreativa e Dramática Mocidade Eborense
- Grupo de Amadores de Música
- Orfeão Académico Eborense
- Sociedade Operária de Instrução e Recreio Joaquim António de Aguiar.

Para além destas colectividades dedicadas à cultura e recreio, havia outras de índole social ou profissional, como

- Associação Comercial de Évora
- Associação Industrial Eborense
- Sociedade Portuguesa da cruz Vermelha
- Sociedade Protectora dos Animais.


Por vezes organizavam-se grandes festivais desportivos, que tinham lugar na praça de touros, e dedicavam-se aprovas atléticas de esforço ou corrida.

É da leitura deste jornal que se extrai a notícia da criação em 25 de Abril de 1913 do Clube Ginásio Eborense, que se vai instalar no antigo convento e praça de touros das mercês, através do arrendamento do edificio por 10 anos, e que já sofre obras de adaptação. Contava então o clube com 150 sócios.

A 19 de Junho de 1913 anuncia-se o surgimento do Ateneu Desportivo Eborense.


Évora – futebol em 1918


                        Na busca de informações sobre o futebol por aqui, consultamos uma vez mais o Notícias de Évora, agora nas suas versões diárias de 1918 (1º semestre), e os anos de 1920 e 1922.

                        Se na primeira abordagem nada encontramos relacionado com futebol, já em 1920 nos deparamos com diversos anúncios de jogos, no campo do Ateneu, o campo Estrela, onde invariavelmente se confrontavam as 1ªs ou 2ªs categorias do Sport União Casa Pia, Ateneu Desportivo Eborense, Lusitano Futebol Clube, e Grupo Desportivo Álvaro Gaspar.

                        Mas aqui e ali se encontram referências a jogos fora de portas. É o caso de algumas deslocações a Estremoz, para jogar com o Comércio e Indústria Sport Clube.

                        Entretanto também se começa a disputar uma competição de primeiras, sendo que a taça se chama Bronze Chiado, enquanto que a destinada às segundas categorias dá pelo nome de Joaquim Monte.

                        Mas a actividade do futebol também está intensa fora de portas, e assim, em Estremoz, o Comércio passa a ser Sport Lisboa e Estremoz. As segundas do Lusitano derrotam as primeiras do Álvaro Gaspar por 7 a 1, e isso é o indício do fim destes.

                        Em Abril joga em Évora, pela primeira vez, o Grupo União Sport, novel grupo de Montemor-o-Novo.
                        Surge então em Évora um novo clube: Luso Futebol Comércio e Indústria . Terá vida efémera.

                        1922 traz-nos notícias da Federação Eborense de Sports. Presidida por João Ramalhete Serra, vai organizar provas de futebol, e publica o calendário. Concorrem em primeiras:

Lusitano Futebol Clube
Juventude Sport Clube
Associação Desportiva Eborense (nova designação do Ateneu)
Sport União Casa Pia, que haveria de desistir no último jogo.

Começa o torneio a 8 de Janeiro, e jogam:

AD Eborense – SU Casa Pia 2-1; 0-0 na segunda volta
Lusitano FC – Juventude SC 3-2; 2-2
Juventude – Associação 1-1; 1-0
Lusitano – Casa Pia 1-0; 1-1
Associação – Lusitano 3-1; 0-5
Casa Pia – Juventude 2-5; desiste o Casa Pia.

A desistência do Casa Pia origina uma final entre o Lusitano e o Juventude, em 7 de Maio, com vitória do Lusitano por 3-2, após prolongamento do jogo, terminado com 2-2. O Lusitano vence, mas o Juventude decide queixar-se à Federação. Seria o princípio do fim da Federação Eborense.

Entretanto surge a jogar em Évora, o Estrela Sport Clube, de Vendas Novas.

O Lusitano Futebol Clube tinha sede no número 11da Travessa da Bola, e foi aqui que se realizou uma assembleia-geral da Federação Eborense de Sports, na tentativa de encontrar soluções para a demissão da Mesa e Direcção, acabando pela publicação de comunicado onde se perspectiva a dissolução.

(Notícias de Évora de 19 de Outubro de 1922)

Mas as vilas e cidades vizinhas sempre foram alforge de equipas de muita garra, que proporcionaram inolvidáveis jogos, embora fora dos caros palcos oficiais. Afinal, tal como  hoje.


                                                                                               (continua)


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