Futebol Saudade

Desde que, há mais de 100 anos, se fez o primeiro campeonato de futebol em Portugal, que a "passerelle", que é a vida desportiva, viu desfilar milhares de clubes.
Uns ainda hoje existem, pujantes e vigorosos até, outros, embora perdendo protagonismo, ainda resistem. Mas muitos ficaram pelo caminho.
Passaram ao futsal, deixaram o desporto, ou fecharam mesmo as portas. É dos que partiram (e não só), que aqui vamos tentar deixar a memória.




domingo, 8 de dezembro de 2013

Futebol em Vila Verde, Braga

Desde 1943 que em Vila Verde há futebol, jogado pelo seu Vilaverdense FC.
Mas só em 1960 chega ao futebol oficial, pois foi aí que passou a contar com um campo apropriado às lides desportivas oficiais. Inaugurava-se então o Cruz do Reguengo.
Desde aí e até hoje, foi sempre este o palco do único clube da vila que a representa no futebol oficial.
Único não, mas quase.

É que em 1933/34 surge na competição oficial um clube de Vila Verde. Era o Triunfo Foot Ball Club.

Dele não se sabe muito. Por isso fica aqui o esboço possível, que talvez sirva de alicerce a que dele se saiba tudo. Para já vejamos como foi a época em que participou do futebol da Associação de Braga.
Nesta época a definição do campeão distrital, que haveria de ser o Vitória de Guimarães, começou-se por encontrar os campeões concelhios. E eram muitos os concelhos. Braga, Guimarães, Vila Verde, Fafe, Póvoa de Lanhoso, Famalicão e Esposende.

Em cada um deles eram só 2 os clubes. Foi o caso de Guimarães, com o Vitória e os Caçadores das Taipas. Fafe com o Sporting e o Futebol Clube, que mais tarde haveriam de se juntar e criar assim a Associação desportiva dos nossos dias, Barcelos com o Gil Vicente e o Académico, jogando no campo da Estação, também chamado de campo da Granja, e que ainda existe hoje, conhecido por Adelino Ribeiro Novo, um atleta falecido em campo.

Mas também Famalicão assistiu aos duelos entre o Futebol Clube actual, e o desaparecido Sporting. Mas outros concelhos havia onde apenas um clube existia. Era assim o campeão concelhio sem jogar. Foi o caso de Esposende, onde o extinto Sport Club, e que está na origem da actual Associação Desportiva, se apurou para o distrital. Mas também foi assim em Vila Verde, com o seu Triunfo a ganhar os galões.

Entretanto Braga fervilhava de clubes. Por isso as competições eram diversas neste início de época, que logo em Setembro se movimentou. Ele foi Campeonato de Honra, Reservas, Segundas, Promoção, e até um Campeonato Infantil. Por isso que iniciados os concelhios aqui em 8 de Outubro, só em 10 de Dezembro se daria início ao distrital. Este levaria a saber quem era o campeão do distrito. Para chegar aos Nacionais, jogava-se um torneio autónomo, que dependia de quem se inscrevesse, e o campeão iria aos nacionais. Foi o Fafe. O Foot-Ball Club.

Como achega, diga-se que eram tantos os clubes em Braga, que se falava nos jornais na fusão de alguns. Mas isso nunca acontecia, e ainda hoje são dezenas os clubes do concelho que jogam futebol regularmente.
Então jogavam para a Honra o Sporting, o Soarense, ainda activos, e o grande rival do Sporting, o Comercial, que tinha par no Sport Clube.
Mas havia mais clubes. Na Promoção eram seis:
Real, Atlético União FC, Desportivo de Santa Tecla, Maximinense e Dumiense.

Para dar resposta a estes clubes todos, havia à altura 2 campos na cidade. O campo dos Peões, que era do Sporting, e o campo da Ponte, explorado por uma Sociedade chamada de Parque da Ponte.

Como se disse, o distrital, visando saber qual era o melhor de Braga, só se inicia em 10 de Dezembro.
São 2 as séries, Norte e Sul.
Na primeira estão o Sporting de Fafe. O Triunfo, o Vitória, e o Maria da Fonte.
Já na Sul encontramos o Sporting de Braga, o Esposende, o FC Famalicão, e o Gil Vicente.
Seriam vencedores de série o Vitória e o Braga, com aquele a sagra-se campeão em Abril, numa final a 2 mãos.

Mas então o Triunfo?
Como se disse, havia apenas uma equipa na Vila, pelo que até Dezembro se preparou jogando com vários adversários que convidou. Está tudo no Correio do Minho, que também nos dá conta de uma sua deslocação à Ponte da Barca, para jogar no “campo do Lima”, que ficava bem no areal junto ao rio, numa língua de areia que este moldou…

Sabemos assim que o clube dispunha de campo, mas era tão pequeno e até desnivelado (Diário do Minho 7 Fevereiro 1934), que o clube foi aceite como filiado, com a condição de adequar o campo aos regulamentos. Mas isso nunca aconteceu.

Os primeiros jogos fizeram-se fora, exactamente pela indisponibilidade de campo (Correio do Minho 12 Janeiro 1934).
A participação do Triunfo começa em Fafe. Joga ali com o Sporting local, e perde por 13 a 0. Segue-se a 7 de Janeiro o jogo foi na Póvoa de Lanhoso, e o Triunfo perdeu por 7 a1.
Na semana seguinte jogou-se em Guimarães, e o Vitória venceu por 5-1.
Em 21 e 28 os jogos seriam em Vila Verde com o Sporting de Fafe e o Vitória, mas o jogo não teve lugar por o campo não estar concluído. O Triunfo seria derrotado nestes jogos, e a Associação desclassificou-o para sócio provisório (Correio do Minho 9 Fevereiro 1934), pois não concluiu o campo no tempo atribuído. Não se voltaria a falar dos jogos do Triunfo no campeonato, e por quase 30 anos Vila Verde não veria futebol oficial.

Fica por desvendar onde ficava o tal pequeno e inadequado campo de jogos. Também se desconhecem as cores deste clube, que terá surgido nos inícios dos anos 30. Talvez um dia se saiba tudo, conhecendo inclusive o seu emblema, que o teria por certo.



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