Futebol Saudade

Desde que, há mais de 100 anos, se fez o primeiro campeonato de futebol em Portugal, que a "passerelle", que é a vida desportiva, viu desfilar milhares de clubes.
Uns ainda hoje existem, pujantes e vigorosos até, outros, embora perdendo protagonismo, ainda resistem. Mas muitos ficaram pelo caminho.
Passaram ao futsal, deixaram o desporto, ou fecharam mesmo as portas. É dos que partiram (e não só), que aqui vamos tentar deixar a memória.




quinta-feira, 3 de março de 2016

Famalicão – os seus primeiros campos de futebol.


Berbéria, Freião, e os Bargos.

Hoje, serão cerca de meia centena os campos de futebol, nas actuais 33 freguesias e uniões do concelho. Algumas até, terão mais de um recinto. Mas nem sempre foi assim.

Famalicão não terá sido diferente do resto do país, e por isso qualquer terreiro ou espaço mais amplo, terá servido aos entusiastas do futebol, no princípio do século passado.
Mas “tudo” terá começado com o rapazes do Colégio de Ermesinde, que  desafiaram  os rapazes de Famalicão. Seria já o Grupo Desportivo Famalicense, que se tornaria clube oficial em 1922, conforme determinou a Assembleia – Geral, realizada para eleger a direcção.
Mas este jogo com os de Ermesinde, não se terá realizado, como se depreende do que diz o jornal “A Paz” em 14 Maio 1921, que a propósito do campo diz “saber que os alunos do Colégio de Ermesinde, persistem na ideia de desafiar os foot-bolistas (sic) daqui, desejo apenas contrariado pelos que teimam em não querer ceder o stand do Clube dos Caçadores, para esses jogos.
Mas que mal traria isso ao clube?
Nenhum, antes pelo contrário.
Raio de capricho.”

O stand deste clube ficava em Louredo, e dispunha de um court de ténis.

Mas terá sido isto a apressar a disponibilidade de uma campo de jogos, o que ira acontecer no campo da Berbéria, que é falado já nos finais de 1921.
O jornal que atrás citamos, diz a 1 de Outubro, que no campo da Berbéria se jogou um jogo “quentinho” entre o União Barcelense e o Famalicense.




Mas o clube, que entretanto se oficializou, como o determinou a assembleia-geral (Vida e Sport 15 Abril 1922), encetou diligências para a construção de um novo campo. Viria a ser o campo de Freião, que inicialmente não teria as melhores condições, como se depreende do anuncio do clube no jornal A Paz de 1 de Julho de 1922, quando convoca os seus atletas para um jogo treino no Freião, e lhes sugere que se apresentem devidamente equipados. Não haveria balneários, por certo.
Mas as beneficiações estão em curso, pois o clube publica um anúncio, a colocar em concurso a exploração do “buffet” (A Paz de 8 Julho 1922).
O mesmo jornal diz, que a inauguração do campo de Freião se fará a 8 de Outubro.



Mas que Barberia e Freião eram campos distintos, não restam dúvidas, ao ler-se o jornal Vida e Sport, que numa mesma edição (15 Julho 1922), fala sobre o novo campo, e reflecte sobre as críticas de alguns que diziam que “saindo do Berbéria não encontrariam mais nenhum terreno”.


                                                                              
Fica assim assente que os campos eram diferenciados, e o do Freião ficava na estrada de Santo Tirso de onde se avistava um frondoso bosque de freixos, como citava a notícia dos anos 20.
Já o da Berbéria ficou difícil de localizar, embora pense que não seria longe da EN206, próximo do cruzamento com a estrada do Porto, a fundamental EN14.



Mas sendo importante o papel dos recintos, não supera o dos entusiastas, que criam os clubes.
O Grupo Desportivo Famalicense, cujas origens oficiais remontam a 1922, terá feito o primeiro jogo, ainda talvez um grupo desestruturado e volúvel, em 25 de Setembro de 1921, jogando com o União Barcelense que venceu os famalicenses por 4 a 2 (Vida e Sport).

Quase desde o início, teve este clube a companhia, na vila, de outro clube, popular, o Operário Foot-Ball Club, que usualmente, e a fazer fé nos jornais de então, jogava no outro campo disponível: o da Berbéria.

Chegados então os anos 30, o futebol toma por aqui outras nuances. Surge um Operário Foot-Ball Club, e o Sporting de Famalicão. Estes, chegam a divulgar em publicação, nos seus 3º e 4º aniversários, as suas origens, onde é possível saber-se de ciência certa, os seus começos, que tem origem num grupo de rapazes, que criam um clube nas proximidades do tribunal de então, e de cujas características tiram partido para assentar as suas “infra-estruturas”. Assim, o caramanchão do jardim servia de biblioteca, e a pala da entrada era a sede. Nascia assim, em 1930, o Onze Aguerrido de Famalicão, que apoiado depois pelos mais velhos, originou o Sporting.
Entretanto fora da sede do concelho também passava a haver movimentações futebolísticas, surgindo Delães com um excelente campo desportivo. É aqui que se funda o Sport Clube do Ave.

Em Setembro de 1931 surge, oficialmente, o Foot-Ball Club de Famalicão (Estrela do Minho 18 Outubro 1931), que tem por base a dissidência de alguns elementos do Famalicense (Estrela do Minho 20 Setembro 1931, pg 2). Criado o novo Famalicão, logo estes se abalançam a criar um “novo” campo. É o retorno à Berbéria, como noticia o Estrela do Minho em 15 Novembro 1931.
O campeonato de 1931/32 (Promoção), já tem a presença do Famalicão, que passa a jogar no campo da Berbéria. Modesto recinto, que em Agosto de 1932 começará a ser vedado, com recurso a chapas metálicas, que irão ostentar publicidade, como forma de prover ao seu custo (Estrela do Minho 28 Agosto 1932, pg 2).

Entretanto, como o campo de Freião estivesse sem utilização, dada a inactividade do Famalicense, os clubes de Famalicão, que à data participam na Promoção, Sporting e Operário, chegam a acordo com o Famalicense para lhe alugar o campo. (Estrela do Minho 10 Janeiro 1932, pg 2).
Nesta caminhada, surge um facto que é demonstrativo da existência de 2 campos. O Famalicão em 1946/47 fica apurado para jogar a fase dos nacionais, e tem de o fazer no Freião, pois a Berbéria está interditada.
Será no Freião, contudo, que acabará o seu percurso, antes de se instalar definitivamente no novo municipal. O dos Bargos.




Impedido de usar o campo de Freião, e não estando o municipal pronto para ser utilizado, joga o Famalicão a época 1951/52 no novo campo da Reguladora, em Louredo, que inaugura com um jogo oficial, Famalicão – Sporting de Fafe.
Foi a empresa e a direcção do grupo desportivo que cederam o seu uso ao clube da vila. (Estrela do Minho 9 Setembro 1951, pg 2).


Em 1952 (ver Estrela do Minho 21 Setembro 1952, pg 2/3), tudo isto passa à história, com um novo palco que chega até hoje. A Autarquia inaugura o estádio municipal de Famalicão, que começou a ser construído 2 anos antes.(Estrela do Minho 27 Agosto 1950, pg 1 /4) Passa a ser chamado de campo dos Bargos, e chega até hoje, conhecido agora por estádio 22 de Julho.


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