Leiria e o futebol.
Não é Leiria uma cidade muito vocacionada
para o futebol. Desde a febre dos anos 20, quando por muitas cidades, vilas e
aldeias, despontava uma enorme vontade de jogar o jogo, que aqui em Leiria a
acalmia era grande.
Mas a cidade já dispunha de relevantes
colectividades, embora voltadas para outros desportos e actividades culturais.
Eram os Ginásios que se assumiam.
O Sportivo Liz, fundado em 1920, e o Leiria
Ginásio, mais novo um ano.
Os primeiros eram popularmente conhecidos por
“broas”, enquanto que os do Leiria Ginásio, pela sua natureza social, eram
designados pelos “papo-secos”.
Foi em 1925 que sucumbiram ao futebol.
Diga-se de passagem que foram na onda reformista de alguns notáveis, sublimados
nas páginas da “Semana Desportiva”, jornal local dedicado ao desporto. Fez este
uma tão intensa campanha, que em 1929 se organizava a associação de futebol do
distrito.
Foram 10 as equipas presentes na reunião
preparatória, sendo que da cidade eram 3. Aos Ginásios juntou-se a Associação Académica
(do Liceu Rodrigues Lobo), que só muitos anos mais tarde se filiaria.
O primeiro espaço na cidade, para se jogar
futebol, foi improvisado no jardim público em 1925. Era chamado de “campo do
Passeio” e ficava junto ao rio. Assim o contaria (30 Novembro 1939), o
presidente do Liz, ao jornal “Região de Leiria”, salientando que se promoveu um
festival no jardim, angariando receitas para os clubes, que permitiu construir
uma vedação ao campo, em 1926, para que os jogos a realizar tivessem cobrança
de entradas.
Duraria até 1934 este campo, quando foi
desactivado. Serviu aos clubes de Leiria no início do futebol federado (1929 a 1934).
O Leiria Ginásio, que era o arrendatário do
campo, depois deste último ano deixou aquele, como lembra o jornal da cidade
Linha Geral (25 Maio 1936).
Desaparecia o futebol na cidade por 10 anos,
aparecendo então uma equipa em Marrazes, fundada em 1936, mas que só se
filiaria em 1944, e outra nas Sismarias.
Não terá sido por acaso que criada a
Associação Distrital, esta logo passasse para as Caldas da Raínha, como forma
de fugir à inacção que a sede do distrito inculcou no futebol do distrito.
Daqui só sairia alguns anos depois (1947), e por decreto governamental!
É no ano de 1936 que se improvisa um campo em
Marrazes, passando a ser conhecido por campo da Mata, em terrenos do Estado
(Ministério da Guerra), que o viria a reivindicar em 1947, levando o Marrazes
para um novo campo na Estrada de S. Tiago, onde esteve por largos anos.
Curiosamente, foi também em 36 que surge noutra
ponta da cidade, um novo clube – União Sismariense – com um campo de futebol.
Era o campo da Estação (Leiria-Gare).
Entretanto o jornal Região de Leiria, a
partir de 1937, passa a invocar a necessidade da cidade contar com um campo de
futebol, como forma de dinamizar a cidade. São variadas as notícias e
comentários publicados, culminando mesmo a situação com a elaboração de um
projecto para o referido campo, que chega a ser enviado a Lisboa (Julho de
1937) para aprovação. Passariam muitos anos até o estádio municipal ser uma
realidade.
Em 17 de Abril de 1947, na Quinta do Cabeço,
adquirida pela Câmara, e que ficava entre o castelo e o rio Lis, começam as
obras de construção do estádio municipal. Foi o presidente de então, homem com
sensibilidade para o futebol, Magalhães Pessoa, quem promoveu esta construção,
que também na altura foi alvo de muitas críticas, salientando que não havia
gente nem clubes para o encher (Região de Leiria 24 Dezembro 1951). Hoje,
passa-se o mesmo. Entretanto o actual estádio, tem como patrono aquele
presidente percursor.
Saliente-se que na cidade, o futebol foi
sempre subalternizado por outras actividades desportivas, nomeadamente pelo
basquete, que se jogou em concorridos campeonatos citadinos, fazendo-se do
parque desportivo da Comissão Municipal de Turismo, remodelado em Outubro de
1937, os palcos de eleição daqueles campeonatos.
No panorama desportivo destes tempos,
surgiria em 1936 nas Sismarias, um clube de futebol popular, o União
Sismariense, que construiu um campo na estação. Era o campo de Leiria-Gare, que
não terá durado muito, pois a sua citação logo terminou.
Também nesta altura (1936), noticiava o
Região de Leiria (6 Fevereiro 1936), que um grupo de desportistas da cidade estava
em negociações, para a filiação no Sporting de Lisboa, do clube que têm em
organização (Sporting Clube Leiriense). O objectivo deste clube era o
basquetebol e outras actividades desportivas, onde se não inseria o futebol.
Este só chegaria ao clube em 1947, e por pouco tempo.
A título de curiosidade, saliente-se que no
futebol oficial, ao nível sénior, foram até hoje 198 clubes os que passaram por
este. Da cidade foram apenas 8, e a maioria com passagens fugazes.
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Recortes
Linha
Geral 18 Outubro 1931
A Comissão de Iniciativa foi autorizada a
contratar a construção imediata do novo Parque da Cidade. Teremos dentro de 2
anos o novo parque com balneário, piscina, ponte, açude, campo de jogos, e tudo
o mais projectado.
RL 6 Fevereiro 1936
Um grupo de
desportistas está em negociações com o Sporting Clube de Portugal, para a
filiação de um novo grupo de basquetebol em criação. Seria o
Sporting Clube Leiriense.
RL 19 Março 1936
O Sporting Clube
Leiriense desloca-se a Maceira-Liz, para o seu 1º jogo de basquete.
Linha Geral 25 Maio 1936
Depois do Leiria
Ginásio acabar com o campo que possuía, de diminutas dimensões e pantanoso,
Leiria está sem campo. Começa aqui o pedido por um novo campo, e na
circunstância lançava-se os olhos para uma quinta adquirida pelo Estado, para
instalar uma escola-prisão.
LG 18 Outubro 1936
O Clube União
Sismariense com sede no Bairro Leiria-Gare, realizou no domingo 11, um encontro
para inauguração do seu campo de jogos, e apresentação do seu11.
Região
de Leiria 10 Dezembro 1936 (pg 4)
Por iniciativa de um grupo de jogadores
desta cidade, tivemos ocasião de ver, no dia 29 de Novembro, no campo da
Estação, um encontro de Desporto-Rei, entre o Clube União Sismariense e o Misto
de Leiria. (segue-se a listagem dos planteis e incidências do jogo)
RL 21 Janeiro 1937 (pg 2)
O basquetebol ainda se joga no Campo do
Parque (Sporting Leiriense vs Leiria Ginásio)
RL 13 Março 1937 (pg 1)
Leiria não tem campo
de futebol. Perspectiva-se a sua construção.
Fala-se do novo campo
(pg3)
RL 20 Março 1937
Diz o jornal que se
ultima a planta de construção do campo.
RL 3 Julho de 1937
O novo campo terá uma
capacidade para 20 mil espectadores
RL 10 Julho 1937
Seguiu para aprovação
em Lisboa, a plante do estádio municipal. 600 contos de custo.
RL 7 Outubro 1937
Totalmente remodelados
os campos de ténis e basquete, no parque desportivo da Comissão Municipal de
Turismo.
RL 14 Outubro 1937
Festa do 1º ano do
União Sismariense
RL 11 Novembro 1937
O antigo campo dos
Marrazes, devidamente reparado, serve a um jogo entre o clube local, GD
Floresta, e um misto de Leiria.
RL 30 Novembro 1939
Entrevista com antigo
presidente do Ginásio Liz, sobre o aparecimento do futebol na cidade, e o campo
de futebol feito em 1925, e vedado em 1926, no Jardim Público.
RL 29 Fevereiro 1940
Fala do imobilismo em
que está o processo do campo de jogos, cujo projecto dorme na capital.
O Sismariense joga no
campo da Estação com o JOC
RL 22 Março 1945
Macieira tem campo de
futebol, onde se joga um amigável com o Atlético Marinhense, que ali defronta o
Sporting de Macieira, formado por empregados da fábrica de cimentos.
RL 30 Agosto 1945
Inaugura-se um Lar nos
Cimentos Lis, com jogo com o Sporting de Lisboa, no campo de Maceira.
A 16 de Setembro
começa o campeonato (zona norte), e o Sporting da Maceira joga em Alcobaça com
o Comércio & Indústria. Perde 6-2.
RL 1947 (data?)
O campo da Mata
(Marrazes) pertença do Ministério da Guerra está em vias de ser revertido para
aquele ministério, ficando assim o clube sem campo. Por isso se apela à ajuda
de construção de um novo local.
O Mensageiro 21 Abril 1949
Estádio Municipal de
Leiria. Fala-se da escritura de compra da Quinta do Cabeço por 670 contos.
RL 30 Abril 1949
Começam a 17 os
trabalhos de construção do estádio municipal, nos terrenos adquiridos na Quinta
do Cabeço, entre o castelo e o rio Liz. A Câmara é presidida por Magalhães
Pessoa.
RL 24 Dezembro 1951
Questiona-se o porquê
da construção do estádio municipal
RL (??) Dezembro 1952
Joga-se no estádio
municipal (presume-se que no campo principal) para a 3ª Divisão Nacional. É o
Marrazes que ali recebe o seu adversário de série.
RL 15 Setembro 1962
Coliponense no futebol
de 5, infantil
RL 2 Fevereiro 1963
Comissão Organizadora
do Coliponense publica um comunicado, onde se dá conta da aprovação dos
estatutos.
RL 9 Fevereiro 1963
Dá-se conta do
ressurgimento do Sporting Leiriense para o futebol
RL 13 Abril 1963
O Coliponense anuncia
a sua estreia no futebol, jogando a Taça Peniche da AFL, defrontando a 28 o
Bombarralense
A sua sede é na rua
Barão Viamonte, Leiria
RL 10 Agosto 1963
O jornal faz um artigo
de apreciação e exortação dos clubes da cidade, visando a sua fusão.
4 comentários:
Em 34-35 o Sportivo Liz esteve presente no Campeonato disrtital
jogou com o AC Marinhense na zona Norte (1-3 e 0-8).
Futebol e política infelizmente sempre tiveram a tal nefasta ligação. Um estádio às moscas que leva ao erário público municipal milhões de euros por ano é o exemplo mais recente.
34/35 - realmente existe omissão na grelha apresentada. Fica registado.
Tem alguma informacao sobre o clube "Dragões Almoinhenses"? Penso que foi um clube que existiu na década de 50 e estava sediado na freguesia de Marrazes.
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